sexta-feira, 22 de outubro de 2010

"E quando eu te ofereço alguma coisa, eu espero que você não aceite."

Vai dar merda.Certeza absoluta.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Pensamento Aleatório

Mil novescentos e alguma coisa, eu devia ter uns quatro ou cinco anos e minha mãe me levava para a creche de manhã cedo.Na metade do caminho, toda aquela gente reunida, ambulâncias e rostos chocados.Desgraça atrai platéia, e não foi diferente; desviando do caminho, minha mãe foi ver o que houve me levando junto.E no auge de minha inocência, eu vejo um corpo com sua cabeça a um metro de distância do que sobrou do pescoço, uma quantidade de sangue como eu nunca tinha visto antes e muita tensão no ar.O homem(por motivos ignorados) pulou do oitavo andar.Me lembro de ver os ossos amarelados do ante braço, fraturas expostas, e todo aquele sangue...mas o que mais me encantou, por assim dizer foi a cabeça fora do corpo.E enquanto todos olhavam assustados e viravam o rosto, eu largava da mão da minha mãe e corria para dentro da faixa de segurança para poder ver de perto.Minha mãe entrou em pânico e um bombeiro me dirigiu até minha mãe, que me bateu(pra variar).

O fato, é que a miséria, a desgraça e a degeneração atrai as pessoas, o ser humano é cruel por natureza; por mais chocado que fique ao ver um corpo sem cabeça no meio da calçada, se tiver oportunidade, irá parar o que estiver fazendo apenas para sanar seus impulsos escatológicos.Não é simplesmente curiosidade, é algo como sede de sangue, vontade de ver algo que fuja da rotina e ao mesmo tempo sirva de consolo, mostrando que não se está tão ruim quanto o objeto observado.Um morto, dois mortos, um milhão de mortos e fudidos, quanto mais, melhor.As pessoas se interessam mais facilmente pela história do holocausto do que pela história da Madre Tereza por exemplo.

O ser humano é tão egoísta que nem ao menos sente pena de verdade ou algo do tipo, no máximo, tenta projetar mentalmente quão doloroso seria se fosse consigo mesmo e não a vítima observada.E é daí que surge a solidariedade, o sentimento de pena e derivados; de forma tosca e ególatra tenta-se trazer pra si todo o dano e/ou degeneração que se vê e isso é o máximo de compaixão que qualquer pessoa realmente consegue sentir por um próximo.O mundo gira em torno de cada um.Pequenas moscas.Sem asas.Depois de perceber que o muito se resume à pouco e que o tudo é quase nada, uma singela constatação.Sangue faz a máquina girar.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Em alguns dias (na verdade em quase todos) a força da gravidade parece se aplicar de forma um pouco diferente sobre você, com mais intensidade, te deixando mais pesado, te puxando pra baixo, e tudo que se precisa é um sorriso para tudo começar a desmoronar.E você sempre se esforça e tenta, e consegue, e ajuda, e pensa, e desenvolve, e acrescenta e dá o seu melhor, mas acaba percebendo que seu melhor não é o bastante, que não é o suficiente.Mais uma vez, aquele sentimento enorme e incessante de que falta algo.Provavelmente algo maior que dois elefantes ainda seria pequeno perto desse enorme vazio que aqui se instalou.

O ser humano é escroto, desde sempre andou em grupos, em bandos.Seja para caçar, para espantar predadores maiores, ou simplesmente para cruzar um lugar e dar uma cantada em alguma menina idiota, a verdade é que todos (salvo raras excessões) precisam de um grupo ou companhia para não se sentirem pequenos ou inferiores e poderem executar determinada tarefa.

Eu nunca fui bom com pessoas, nunca tive muitos amigos casuais,que dirá amigos próximos.E dessa vez o grupo de certa forma é tão seleto que há competição para fazer parte do mesmo.Eu não gosto de grupos.Mas sou uma puta, eu quero dinheiro.E me meto à besta de fazer coisas que eu sei que só resultarão em decepções.É impossível como jogar uma moeda pro alto e desejar que nenhuma de suas faces toque o chão.

E eu começo a me sentir cada vez mais só, e tenho cada vez mais necessidade de pessoas por perto.E continuo me mostrando nada apto à qualquer tipo de convívio, relação ou contato com outras pessoas.Incrível como eu consigo ser inferior em todos os aspectos que as pessoas normais prezam, uma verdadeira negação.

Agora sim eu entendo o que é orgulho ferido.Se é que eu tenho algum.Acho que essa é a primeira vez onde algo de fora, que não seja eu mesmo me machuca.E garanto com toda certeza que dói muito mais.Revolta, machuca.Eu sempre fiz listas de pessoas pra matar, de bandas favoritas, de coisas pra fazer...dessa vez eu poderia fazer uma lista de coisas horríveis sobre mim mesmo.E não duvido nada que seria a maior lista que eu já fiz.Vou aproveitar que o natal tá chegando e vou pedir novos horários, novos hábitos, novas roupas, novos lugares, novas pessoas, novos modos de se comportar e agir, novas oportunidades, um novo corpo, um novo rosto...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Coisas que aprendi ao longo do ano

- Sorrir não custa nada.Nada mesmo.
- Você não vai perder a luta se abrir a guarda SÓ UM POUQUINHO.
- Se você deixar estar, com certeza acontece algo pra tirar tudo do lugar.
- É uma grande mentira a história do "querer é poder".
- Irão surgir amigos de verdade de lugares e situações improváveis.
- Alguém que você sequer imagina gosta de você.E vice versa.
- Em certos casos, remédios não curam.
- E em determinados casos, pioram o caso.
- Quanto mais você quer algo ou alguém, mais distante fica.
- Quando consegue esse objeto ou pessoa, enjoa e abandona.
- Expectativas estão aí para ser superadas.
- Ou para decepcionarem em dobro.
- Dinheiro compra quase tudo.
- Mas é bem mais legal quando é de graça.
- Amores platônicos tomam tempo demais.Melhor jogar video-game.
- Ninguém ama ninguém.
- Quanto mais bonzinho, mais você se fode.
- E se tentar ser esperto, se fode mais ainda.
- Às vezes, por mais que se faça algo, nada acontece.
- As pessoas se decepcionam com a verdade.
- E se decepcionam mais ainda com mentiras.
- Pessoas são deveras complicadas.
- E ao mesmo tempo são simples demais.


Desse jeito eu viro mestre em um ano.

sábado, 2 de outubro de 2010

Viagra de pobre é dedo no cu, diz a pichação na parede do banheiro.Uma carreira de cada lado, uma cuspida e uma boa mijada, ainda são duas e pouco da manhã.Para muitos, a noite é uma criança, mas ele sabe que a noite é nada além de uma velha safada e prepotente.Balança o pau, e sentindo o coração bater dentro de si sai com confiança.Não dura nem cinco minutos.

Como pode tanta gente se divertir tanto com uma música tão ruim assim?Meia garrafa em um gole, e até arrisca dar uns passos sem sucesso.É deveras complicado balançar o corpo e fazer movimentos estranhos sem parecer um idiota.Outro cigarro.As coisas não são mais como costumavam ser, aprendeu a se divertir às próprias custas, a rir de si mesmo, e não consegue evitar um riso sem graça.

Engraçado como pessoas aleatórias tem habilidade em desenvolver qualquer tipo de contato com pessoas aleatórias, falar com alguém que nunca se viu antes, que não se sabe o nome, que não se sabe nada a respeito.São quase campeões.E com menos de dez minutos de papo, o cara já aperta a bunda da moça enquanto a beija, e nosso herói já perdeu a conta de quanto gastou com bebida sem ficar bêbado.Outro cigarro, outra bebida, outro par de carreiras, e outra tentativa.

-Boa noite.
-Dá um cigarro?
-Claro.
-Obrigada.

E vai embora.Ao menos ela sorriu.Que babaca.

Quatro e vinte da manhã, as pessoas estão cansadas.Alguns dormiram, alguns se pegam pelos cantos e alguns cheiraram tanto que não conseguem parar de dançar.Nosso herói observador acende outro cigarro e vai olhar o céu.Nehuma estrela.A alguns metros, um trio de bêbados segurando outro bêbado enquanto vomita.Quanta degradação.

Antes as pessoas pagavam para se divertir, hoje pagam apenas para não sofrer.A música ruim e as pessoas dançando e as bebidas caras e o coração triste e os pulmões podres, nada disso faz sentido.No final das contas nosso herói não tem nada de herói.E deseja com todas as suas forças ter ficado em casa assistindo ao Jô Soares ou vendo o Red Tube em vez de tudo isso.

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"Dizem que estou desfigurado,
e com razão, estou cansado"

Cartola