terça-feira, 31 de dezembro de 2013

De novo

Vai-se embora dois mil e crazy.
Vem vindo dois mil e catarse.
E eu quero mais.
Eu quero menos.
Eu quero tudo.
E quero nada.
É sempre a mesma coisa.
De um jeito diferente.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Barulho

Eu sou um grito
Você é um berro
Ondas sonoras
Desencontrando

Você é um grito
Eu sou um berro
Você acerta
Enquanto eu erro
Você é um berro
Eu sou um grito
Desafinado
No infinito

Eu sou um grito
Quebrando o silêncio
Você é um berro
Quebrando as costas

Arranha a garganta e quebra as taças vazias
Pinta o céu de vermelho com o sol poente
Engole a sanidade e desascelera os dias
Depois de tudo o silencio e mata a gente

Eu sou um berro
Que incomoda o vizinho
Você é um grito
Que chama ele pro samba

Você é um grito
De cordas vocais
Eu sou um berro
Pedindo mais
Você é um berro 
Que reverbera
Eu sou um grito
Que desespera

Você é um grito
Eu sou um berro
Nós somos barulho
Ecoando por aí

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Passeando

Dia cinza na cidade azul, que a cada dia tem sido mais cinza. Rua vazia, todo mundo em casa como se fosse domingo, como se valesse mais o sofá e a Sessão da Tarde na tv. O ano tá terminando. Para então começar tudo igual. Tudo de novo. Amanhã é dia de trabalhar, e a hora já começou a voar. Acordar cedo, sorrir, dar bom dia pra gente que você não se importa...Só penso que hoje meia dúzia de cachaça não farão mal a ninguém.


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal?

Metade das luzes de natal já queimou. Mais um gole e a essa hora eu já não sei dizer se o copo está meio cheio ou meio vazio. Está pela metade. Assim como eu. Minhas pernas, minhas costas, meu sorriso amarelo, dia chuvoso, gosto de guarda chuva e comida de microondas. A casa vazia, e o único som que se ouve é o dos meus pés batucando alguma coisa sem ritmo no chão enquanto escrevo. Tá ficando tarde e eu não consigo dormir. Tá ficando chato e eu não consegui quebrar o silêncio. Poderia ser pior, sempre pode. Mas também poderia ser só um pouquinho melhor. Vai que o papai noel chega aqui depois de entregar os presentes e vem pro sofá dividir essa vodka comigo. Vai que isso tudo é só um sonho. Ou pesadelo. Por enquanto, é só esperar o remédio fazer efeito. Que o espírito natalino tome conta do seu coração. Muita saúde pra você, indulgente que o ano inteiro deseja e faz mal para os outros, muitos anos mais de escória. Que todas as crianças ganhem os presentes que pediram. Que quem tem fome, consiga se saciar. Seja fome na barriga, ou fome na alma.

feliz natal. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

"When all is said and done, there's no love lost."

Há exatamente um ano atrás mais ou menos a essa hora da noite você me dava o último beijo me assegurando de que não era a última vez que nos veríamos, que não era uma despedida e que era só pra dar tempo de os ânimos se acalmarem, que me amava e já sentia saudades antes mesmo de eu ir.
Foi a última vez que nos vimos. Nunca mais. E depois de você eu continuei por aqui, meio perdido, meio jogado, nunca mais fui o mesmo. Por um bom tempo só consegui machucar quem tentou se aproximar, só consegui correr das coisas, das pessoas, de mim mesmo, fiz bastante besteira com os outros e comigo mesmo por aí.
Vez ou outra, ainda acontece de eu estar andando pelo centro e te procurar em algum ponto de ônibus ou pelos bares que a gente costumava ir, e passar pelos lugares onde juramos amor eterno e demos tantos beijos bêbados e apaixonados. Foi divertido enquanto durou.
O mais engraçado e patético de tudo é a estranheza com que dois extremos opostos foram se esbarrar e sentirem necessidade de andar de mãos dadas por aí, de não desgrudar. Vai ver foi só fogo no cu, vai ver foi só falta de vergonha na puta da cara. Hoje eu consigo ver que tanto você quanto eu precisavamos demais tampar um buraco enorme em nossos corações.   
Depois desse tempo todo eu tomei coragem pra rever nossas fotos e ler suas cartas pra mim, as brincadeiras em guardanapos de bar e todos os bilhetinhos que você adorava esconder pelo meu quarto pra me fazer sorrir quando eu encontrasse e você não estivesse por perto. Das chuvas que a gente já tomou rindo e chorando, de você cantando pra mim super desafinada, das nossas brigas loucas e de quando cada um estava em um lado da cidade e corria pra se ver o mais rápido possível só pra tentar fazer ficar tudo bem, mesmo que sem sucesso. Como se fosse capsula do tempo, abri a lata onde guardava tudo, hoje, meio enferrujada, corroída... 

Entre sorrisos e choro, tudo ao mesmo tempo, eu lembrei de tudo, desde o início até o final. Realmente foi algo muito legal, no pouco tempo em que deu certo. Mas foi um erro. Milhares de erros. Meus, seus, nossos. Eu tentei encontrar você antes de pensar em encontrar a mim mesmo, e acabei me perdendo ainda mais. Você era mais perdida do que eu e pra cada barreira criava um monstro pra jogar em cima de mim. Eu matava os monstros me tornando um monstro ainda maior, e a gente cada vez menos conseguia se olhar no olho, abrir o coração pro outro, por vergonha, medo, cansaço, ou simplesmente porque já vinha percebendo que não serviria de nada...
E depois desse tempo todo eu finalmente não me pergunto mais o que que fiz de errado por entender que tudo foi um erro, já não importa mais. Mas todos os meus erros me fizeram aprender a ser alguém bem melhor hoje. E todos os seus erros me ajudaram a ser bem menos ingênuo hoje. O tempo e a energia que a gente perdeu persistindo no erro foi o tempo em que a gente deixou a si mesmo de lado. E nesse tempo você ficou mais cinza, eu também, como se a gente tivesse envelhecido 10 anos em um ano só. 
Desculpa por tudo. E obrigado por tudo também. Pelos sorrisos, pelos segredos, pela grosseria e pelas mentiras, pelo carinho enquanto durou, e até por quando você não aguentava nem mais dormir ao meu lado e me fazia chorar a noite inteira. Foi um aprendizado doloroso porém incrível e eu cresci um bocado nisso de me perder e perder você. Tomara que você tenha aprendido algo também. Que seja bem feliz, e que nunca te façam as coisas como fez comigo. A gente se esbarra. ou não. Boa sorte.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Os 10 albuns da minha vida

Num tédio de domingo em plena quarta feira resolvi fazer uma lista com os 10 albuns da minha vida. Não estão necessariamente em ordem de importância, seria injusto colocar um acima do outro, pois todos eles foram trilha sonora da minha vida, Seja nos melhores ou nos piores momentos, nos momentos decisivos, nos momentos mais especiais ou de maior aprendizado, algum desses tocou e me fez enxergar algo mais, ou fechar ainda mais meus olhos. Alguns fazem parte da lista desde que eu me entendo por gente, outros entraram recentemente, e obviamente muita coisa ficou de fora, já que só peguei 10 albuns, mas cada um tem grande importância na minha formação (ou deformação) como pessoa, ser pensante (ou não) e cidadão. 




Les Discrets - Septembre Et Ses Dernières Pensées

Em um tempo onde minha vida andava tão cinza quanto a capa do album isso tocava todos os dias no meu fone, vendo o mundo passar e eu sem sair do lugar, desejando por um pouco de cor, sem me tocar que minha felicidade depende somente de mim mesmo a grosso modo. Um vislumbre de tanta vida, de um lugar onde só neva. O pouco que eu sei de francês aprendi traduzindo e aprendendo a cantar as letras dessa banda. Um dia eu ainda abro a gaiola para libertar o pássaro com olhos de asfalto que chora lágrimas de piche. 



Los Hermanos - 4

Conheci Los Hermanos por muitos anos e detestei. E não lembro como nem porquê, parei pra ouvir o 4, e me apaixonei. Para mim o álbum lembra a cor branca. Como se fosse uma cortina, meio translúcida, e eu tentasse enxergar o que tem do outro lado. Me faz sentir saudade, nunca descobri exatamente de quê ou de quem, é um álbum que eu ouço pouco pois essa saudade em especial dói. As vezes ponho o meu sapato novo e vou passear. Sozinho.



Sepultura - Roots

Foi um dos primeiros trabalhos de "Róque Paulera" que ouvi. Todo o trabalho percussivo, música de macumba, música de índio misturado com toda aquela raiva...algumas pessoas dançam com música pop, eu danço ouvindo Roots Bloody Roots. Dança de maluco de sanatório se debatendo dentro de uma jaula. Por culpa desses caras eu decidi deixar o cabelo crescer. Um dos dias mais legais da minha adolescência foi quando conheci pessoalmente o Andreas Kisser, o cara foi super gente fina e autografou meus vinis e cds da banda, legal o cara sorrindo pra mim sabendo que um moleque mirrado com o cabelo crescendo era inspirado por ele. Na verdade devem existir milhões de moleques na mesma situação, haha.


Nirvana - In Utero

Se fosse para colocar em ordem de importância, talvez esse fosse o número um. Inicio da adolescência, e eu nunca tinha sentido descargas de emoções tão fortes até então. Aqueles gritos desesperados pedindo socorro eram tão familiares desde primeira audição, parecia até que era eu quem gritava nas caixas de som. Por uns dois ou 3 anos nessa época eu acendia uma vela para a alma do suicida todo 5 de abril. E ah. Foi essa banda que me fez querer aprender a tocar guitarra e começar a escrever.



Radiohead - Ok Computer

Quando o desespero e o cinza tomaram conta de mim de uma vez. Vai ver foi a época mais difícil da minha vida, entre remédios para dormir, remédios para acordar e remédios para segurar a onda, esse cd tocava e me fazia sentir a mesma coisa que sinto até hoje quando ouço. Um descontentamento sem tamanho com o mundo, sobretudo comigo mesmo, uma certeza de que os problemas não tem solução, só curas passageiras para doses ainda maiores de dor. Hoje em dia eu penso completamente diferente do que pensava com 16, e essas músicas as vezes fazem me sentir com 16 de novo, seja pelo lado positivo ou pelo lado negativo. 


Cícero - Canções de Apartamento

Não sei onde ouvi pela primeira vez. Alguém muito especial sempre teima em dizer que me apresentou o Cícero e bliblibli, mas de qualquer forma prefiro não saber de onde vem as coisas especiais como essa pessoa. Mesmo as músicas mais felizes desse album são tristes. Foi trilha sonora da minha descoberta como ser que sente algo por alguém, que se decepciona e que decepciona também. Foi trilha sonora de beijos, de abraços, das poucas vezes onde eu já tive coragem de abrir meu coração. Desde então para mim essas músicas são como um fim de namoro. As vezes libertador, as vezes, de quebrar o coração.



Caetano Veloso - Transa

Essa mesma pessoa especial que diz ter me apresentado Cícero me apresentou esse álbum. Até então nunca tinha dado muita atenção para música popular brasileira e era cheio de preconceitos à respeito, mas resolvi dar uma chance. Ouvi pela primeira vez e achei uma merda. Ouvi de novo e achei mediano. Na terceira audição, me apaixonei. Desde então fiquei fascinado com a música e os artistas do nosso país, e quase todos os dias procuro conhecer algo novo, mesmo que tenha sido gravado nos anos 70. Obrigado, Gi, por me apresentar o Transa. 


Maldita - Paraíso Perdido

Banda obscura do Rio de Janeiro, cresci junto com a banda. Odisséias bêbadas inimaginaveis por toda a cidade, sendo menor de idade e tentando entrar nos shows, que na época eram tão pesados que só maior de idade podia assistir. Carne crua, sangue falso, arame farpado, auto-flagelação com cacos de vidro e transe. É isso que se via nos anos de ouro da Maldita. Mesma época em que eu comecei a me interessar por produção músical e querer montar um estúdio, ainda hoje, 8 anos depois de o lançamento do album, a cada audição eu ouço um som novo escondido. A cor desse álbum é vermelho. "Eu prefiro ficar dentro do buraco, porque no buraco ao menos eu me sinto assim."


Slayer - God Hates Us All

Talvez esse seja o álbum que tenha feito nascer peitinhos em Madame Morte quando ela ainda era uma garotinha. Joga um cd desse na mão de um muleque de 13 anos e assista ele virar um bicho. Tanto ódio de uma vez só, nunca foi tão fácil descarregar toda a raiva que eu sentia de mim e do mundo, da hipocrisia que é qualquer tipo de religião, esse álbum me fazia mais arrogante que o normal, fazia eu sentir tanta força, como se pudesse deitar meio mundo na base da porrada e ainda ter folego pra correr uma maratona. Foi esse álbum que me fez virar um metaleiro sujo, haha.



Cartola - 1976

Não tem uma música desse cd que não me traga alguma lembrança. Pra mim esse cd é sinestesia, saudade, sorriso, choro. A voz meio cansada de um velho que toca a alma com frases tão simples e subjetivas dependendo de onde se olha, a vontade de dançar em uma música, a vontade de vencer 800 em outra, a mesa de café da manhã e ela no meu colo sorrindo pra mim, a rua vazia e eu precisando me encontrar, o moinho moendo meu coração, o passado, o presente, o futuro. Tá tudo nessa bolacha.



segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Anjos com os pulsos cortados voando no céu do sábado, chovendo em botafogo, tudo alagado, e quem não tem casa vai morrer afogado. Um trago, um gole, um choro, tá tudo doendo, tá tudo errado, não para, não anda, aqui comigo, sou eu. O buraco no vidro é o buraco no meu peito, uma pá para um enterro, um grito e uma garganta, não para, não termina. Dramin pra mim, choro, vômito, a ferida que não para de escorrer, olha só que merda tá esse lugar. Tá tudo tão feio, tudo tão ruim. O vermelho tá ficando cinza. E o cinza tá ficando preto.