Pode ser que tenha acontecido em um segundo, pode ser que tenha sido uma hora...quando me dei conta, parecia uma eternidade, e eu continuava estático, observando a dança sem ritmo, indo e vindo de lugar algum para parte nenhuma. Um aquário ornado com plantas coloridas, pedrinhas de todas as cores, um bonequinho de mergulhador fazendo bolhas, as plantas de plástico balançando com a água e o peixinho azul nadando sozinho de um lado para outro como se não houvesse amanhã, balançando sua cauda como se fosse de tecido ao sabor da maré artificial com paredes de acrílico, de não mais que 30x20cm...
Indo e vindo, de um lado para o outro, em círculos, sem nunca partir ou chegar. Me aproximei sem me dar conta e ele parou de se mexer, ali estático, olhando pra mim com seus olhos de peixe azul, provavelmente com medo e tristeza, ou vai ver os peixes não pensam. Já li por aí que a memória dos peixes dura cerca de 30 segundos. Por alguns segundos pensei que isso até poderia ser bom, já que a cada 30 segundos ele se esqueceria estar aprisionado. E logo em seguida percebi que a cada 30 segundos ele relembraria estar preso de todas as formas possíveis, em uma solitária cheia de enfeites artificiais.
Fui pra janela e olhei o céu pensando em peixes voadores e pássaros que mergulham. Pensando que não somos muito diferentes do peixinho azul. Vivendo cada um em sua própria prisão cheia de enfeites coloridos, andando em círculos e fazendo refeições regularmente...até que volta e meia a gente se dá conta da própria situação e se vê imóvel e sem saída, como o peixinho azul. Logo em seguida a gente se distrai e momentaneamente se esquece, para logo após se lembrar de tudo novamente. Sempre nadando no nosso próprio mar, enfrentando nossas próprias marés, e talvez no fim das contas nada disso faça sentido.
Percebi que corria um leve risco de estar viajando na maionese e voltei pro meu próprio aquário, fui buscar uma cerveja na geladeira e conversar com as pessoas na sala. Memória de peixe é uma loucura mesmo...