Mil novescentos e alguma coisa, eu devia ter uns quatro ou cinco anos e minha mãe me levava para a creche de manhã cedo.Na metade do caminho, toda aquela gente reunida, ambulâncias e rostos chocados.Desgraça atrai platéia, e não foi diferente; desviando do caminho, minha mãe foi ver o que houve me levando junto.E no auge de minha inocência, eu vejo um corpo com sua cabeça a um metro de distância do que sobrou do pescoço, uma quantidade de sangue como eu nunca tinha visto antes e muita tensão no ar.O homem(por motivos ignorados) pulou do oitavo andar.Me lembro de ver os ossos amarelados do ante braço, fraturas expostas, e todo aquele sangue...mas o que mais me encantou, por assim dizer foi a cabeça fora do corpo.E enquanto todos olhavam assustados e viravam o rosto, eu largava da mão da minha mãe e corria para dentro da faixa de segurança para poder ver de perto.Minha mãe entrou em pânico e um bombeiro me dirigiu até minha mãe, que me bateu(pra variar).
O fato, é que a miséria, a desgraça e a degeneração atrai as pessoas, o ser humano é cruel por natureza; por mais chocado que fique ao ver um corpo sem cabeça no meio da calçada, se tiver oportunidade, irá parar o que estiver fazendo apenas para sanar seus impulsos escatológicos.Não é simplesmente curiosidade, é algo como sede de sangue, vontade de ver algo que fuja da rotina e ao mesmo tempo sirva de consolo, mostrando que não se está tão ruim quanto o objeto observado.Um morto, dois mortos, um milhão de mortos e fudidos, quanto mais, melhor.As pessoas se interessam mais facilmente pela história do holocausto do que pela história da Madre Tereza por exemplo.
O ser humano é tão egoísta que nem ao menos sente pena de verdade ou algo do tipo, no máximo, tenta projetar mentalmente quão doloroso seria se fosse consigo mesmo e não a vítima observada.E é daí que surge a solidariedade, o sentimento de pena e derivados; de forma tosca e ególatra tenta-se trazer pra si todo o dano e/ou degeneração que se vê e isso é o máximo de compaixão que qualquer pessoa realmente consegue sentir por um próximo.O mundo gira em torno de cada um.Pequenas moscas.Sem asas.Depois de perceber que o muito se resume à pouco e que o tudo é quase nada, uma singela constatação.Sangue faz a máquina girar.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Eu não presto;
Tu não prestas;
Ele/a não presta;
Nós não prestamos;
Vós não prestais;
Eles/as não prestam .
É,rapaz,viver é um negócio bem complicado e viver amando é um fator agravante.Ser humano é egoísta mesmo e não vai mudar não,se esse milhões de anos com a tal evolução ele não perdeu esse egoísmo não é agora que o fará. beijos
If only I had the guts that the guy had. The world would be a much coloured world in my eyes.
Call me.
Eu sempre procuro ver de outra forma, com um olhar de esperança e talvez por isso sempre acabo sofrendo...
bjs
Amei esse texto. Me lembrou de uma coisa engraçada. Qdo estive em Berlim, a guia turística riu da minha cara qdo eu disse q queria fazer o West Tour (pra conhecer a parte oeste da cidade). Depois ela me explicou q ngm nunca havia se interessado por aquele tour, eu fui a primeira a fazê-lo. Tive a guia só pra mim, pq todos os outros turístas foram fazer tours relacionados a Hitler, nazismo etc. E sinceramente o tour foi super divertido e interessante. De Hitler eu já sei demais, estudei na escola e não preciso ver fotos de gt doente ou morta pra saber o q ele fez.
Postar um comentário