De longe, a vi, e por algum motivo bobo, quis ela ao meu lado. "Vem pra cá, japonesa, senta co pai", pensei eu. Então ela dá sinal para o ônibus e em algum ponto da extensão da Rio Branco, ela sobe no veículo. Com tanto lugar vago, ela senta ao meu lado, cheirosa, linda, baixinha. E eu já começo a achar estranho demais, como se ela lesse meus pensamentos, e fico constrangido olhando pras mãos.
Ela olha para mim de rabo de olho, e quando eu olho para ela de rabo de olho, ela vira o rosto. Uma, duas, três vezes, chega até a ficar divertido. E eu, que sou o pior do mundo para ler sinais, fico ainda mais constrangido, sentindo o cheiro do perfume dela e me segurando para não agarrá-la. Tarde da noite, e o ônibus vai à mil por hora, eu só precisava pensar em algo pra dizer antes que chegasse no meu ponto, e já estavamos chegando na São Clemente.
Infelizmente, quando tomo coragem e solto a primeira besteira que sai pela boca já é tarde demais.
- Moça, licença.
- Oi! - Diz ela meio sem graça.
- Você por acaso vai descer no Largo dos Leões?
- Por quê?
- Porque mulher bonita sempre desce no Largo dos Leões.
Ela ri sem graça e fica vermelha, e com os olhinhos puxados brilhando, responde.
- Sim, eu vou descer no Largo dos Leões.
- Tá vendo só!
- Chutou bonito, hein!
- Que nada, eu tenho essa teoria há anos, haha. Como cê chama?
- Gabriela, e você?
- Lucas, prazer.
Dois beijinhos no rosto, pele tão macia e cheirosa, que eu fico até com vergonha de arranhá-la com minha barba por fazer. Sem que se perceba, já estamos no Largo dos Leões, e Gabriela se despede, se levanta e vai embora antes que eu tenha tempo e coragem pra pedir seu telefone. Ela desce do ônibus e vai andando sem olhar pra trás, e eu fico lá com cara de bocó reparando a bunda da japonesa mais gostosinha que já vi e deixei ir embora...
Se os deuses e os demônios tiverem alguma simpatia por mim, favor me fazerem esbarrar com a Gabriela mais uma vez. Amém.