quinta-feira, 6 de março de 2014

Grilhão

As paredes me olham enquanto eu fumo e acendo um cigarro com outro. A janela quebrada é a única que fica por perto. O teto não desaba sobre a minha cabeça enquanto eu desejo ser uma aranha de ponta cabeça grudada lá em cima, tentando fugir do chão. O quarto abafado parece ficar cada vez menor, e as paredes que me olham cada vez mais de perto querem me esmagar. As cinzas da quarta feira de cinzas são brancas, não tem Sol no céu. Não tem eu aqui. Não quero ficar aqui e nem tenho pra onde ir. Tosse pesada, tosse de cachorro, segundo minha mãe. Cachorro quente, cachorro abandonado, cachorro que não morde, tanta fome que nem consigo almoçar. Tudo meio assim sei lá, eu só tou aqui da metade pra cima, sem perna pra correr por aí. De repente eu não tou mais aguentando nem o peso de uma pena. Tem um grilhão preso na minha alma.