quinta-feira, 6 de março de 2014

Grilhão

As paredes me olham enquanto eu fumo e acendo um cigarro com outro. A janela quebrada é a única que fica por perto. O teto não desaba sobre a minha cabeça enquanto eu desejo ser uma aranha de ponta cabeça grudada lá em cima, tentando fugir do chão. O quarto abafado parece ficar cada vez menor, e as paredes que me olham cada vez mais de perto querem me esmagar. As cinzas da quarta feira de cinzas são brancas, não tem Sol no céu. Não tem eu aqui. Não quero ficar aqui e nem tenho pra onde ir. Tosse pesada, tosse de cachorro, segundo minha mãe. Cachorro quente, cachorro abandonado, cachorro que não morde, tanta fome que nem consigo almoçar. Tudo meio assim sei lá, eu só tou aqui da metade pra cima, sem perna pra correr por aí. De repente eu não tou mais aguentando nem o peso de uma pena. Tem um grilhão preso na minha alma.

Um comentário:

Giovana disse...

o espaço entre eu e você
com tudo que é grande
jamais poderia ser imenso quanto o amor

espaço obstinado e sem-vergonha
estrada sombria
onde mora a fatia
triste do meu coração
não por isso, fria:
tão quente o meu corpo, minha alma
esperando envolver o teu

ouso pensar
que se por perto me houvesse
não teria grilhão

pois eu beijaria
os teus olhos
e te estenderia a mão
pra um passeio bobo, um cinema
um ovomaltine qualquer
que adoçasse o amargo

meu amor,
eu cuidaria de você
sem a menor possibilidade de ir embora
antes de te ver sorrir
meu amor,
eu comecei depois que te conheci
e se você não caminhar ao meu lado
não tenho pernas pra chegar até o fim