Um grito quebra o silêncio
Um trago preenche o vazio
As paredes estão encolhendo
Ou será que fiquei maior?
Mais gordo, talvez
Dormi um rei e acordei um plebeu
É macho, é fêmea
Eu acho, efêmera
Mas não.
É tristeza.
Sou eu.
Despetalando os dias
Bem me quer, mal me quer
Nem quero nada
Quero tudo
Ou não.
Fim de festa, fim de feira
Fim de carreira
Quarta feira
Tanto faz
Mas não faz
Nada.
quinta-feira, 27 de agosto de 2015
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Tango
A mancha de mofo na parede do meu quarto olha pra mim. Já me viu sorrir, chorar, já me viu de preguiça e com pressa, já me viu fazer sacanagem acompanhado, sozinho. Hoje, estou sozinho. Ontem, anteontem, já faz um tempo. Sem sacanagem nem prazer, sem sorriso e sem nem nada pra distrair. Cabeça vazia é oficina do diabo, diz o ditado. E o diabo impera. Em cada pelinho do meu corpo, em cada pinta, no meu pinto. Diabo cinza, pobre diabo. Vagando na vida como um fantasma, um cachorro sem dono procurando farelo em porta de bar. Sobrevivendo a cada dia com alguns arranhões, fraturas expostas e fraturas bem escondidas, mas nunca curadas, de fato. Dizem por aí que a gente faz o próprio destino, e acho que nem tenho feito nada. Então não pode reclamar. Mas também tá foda sair do lugar. Grilhões invisíveis pelos pés, pelas mãos, o próprio corpo já virou prisão. As coisas todas perdendo o sentido como quando eu tiro meus óculos e meus olhos míopes enxergam tudo embaçado, meio sem forma, sem distinção de detalhe nem poesia, só borrões. Que que se faz com tanta solidão? Deveria ser possível transformar as coisas feias e adversidades em coisas bonitas e caminhos, mas em algum ponto eu me perdi. Em algum ponto, eu perdi. Tava dançando tango com a vida. E parece que agora, dancei.
domingo, 16 de agosto de 2015
Brasil Sil Sil
Segue o brasileiro. Pentacampeão em andar em círculos com os olhos vendados. Cego guiando cego. Lutando da forma errada pelos motivos errados, passando por cima de tudo que vai contra sua própria ideologia, ou você está do lado ou está no caminho.
Minha opinião tá mais que certa, a sua é equivocada e absurda. Vá ler um pouco mais! Minha opção sexual é a única verdadeira e aceitável, a sua é doença mental. Viado tem mais é que apanhar e putinha tem mais é que ser estuprada pra parar de dar mole por aí. Minha religião é boa e pura, a sua é do demônio. Malditos macumbeiros. Meu diploma de faculdade fui eu que conquistei (papai pagou) e meu emprego bom fui eu que consegui com minhas qualificações(e os contatos de papai). Não existe crise, você que é preguiçoso!Quem quer consegue, se você tá na merda é culpa sua e só sua, não se faça de coitado. O país seria muito melhor sem essa corja de mendigos preguiçosos. Ainda vou embora do Brasil! Lá na Disney não tem dessas.
Cada passo é um passo em falso, andando sobre ovos. Ou seria um rebosteio? Em terra de cego, quem tem olho...ERREI!
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
terça-feira, 11 de agosto de 2015
Pedras
Palavras são pedras. Com pedras se constrói castelos. Ou simplesmente se amontoam, pedregulhos, inértes, estáticos inúteis. Há ainda as pedras que se atira. A pedrinha atirada na janela do quarto da amada para chamar sua atenção para uma serenata e a pedra que se atira na água só pra ver quantas vezes ela irá "quicar" entre a água e superficie, sem motivo algum, puramente por curiosidade ou tédio. A pedra que se atira para estilhaçar tetos de vidro como se não fossem nada e as pedras que atira nos condenados até a morte em certas culturas.
"Veio com 4 ou 5 pedras na mão."
...
E nem construiu merda nenhuma.
Monólitos de diferentes tamanhos, espessuras e densidades pra dar e vender, pra tomar e esconder. Com palavras se constrói e se destrói, ou simplesmente não se faz nada. Valem milhares ou coisa nenhuma, e como pedras, como quase tudo na vida, tem seus pesos e medidas. E parece que em algum ponto da humanidade, se tornaram algo tão banal como respirar. Respirar, que faz viver. Palavras, como entulho. De um prédio demolido, ou de algo em construção.
O que você quer dizer? Eu não quero dizer nada.
Quantas pedras você tem? Eu tenho meu silêncio.
Rocha tão grande quanto o everest.
Pedras são lanças e escudos, principalmente. Carne tão frágil, sempre evitando qualquer tipo de sangramento. Nem tanto assim, se sangrar em outro lugar. Tá doendo? Nem senti...
Ataques periféricos proferidos sem aviso e sem que se perceba nos derrubam ou derrubamos os outros. Nestas terras pantanosas onde se mata para não morrer, escondam seus cadáveres!
Para que não reste pedra sobre pedra
Eu não digo nada.
domingo, 9 de agosto de 2015
Passados (pra trás)
Era um rei e sua coroa era de bijouteria
Falsos brilhantes que perdem o charme
Assim que se chega mais perto
Era ensolarado, um dia azul e agradável
Daqueles que prometem muito mas não acontece nada
Outro dia no front
Eram borboletas no estômago
Ou um nó nas tripas?
Devaneio de lagarta em casulo
Tinha tudo pra dar certo
Mas não sai do lugar
Tentando não perder tempo
Perdeu todo o tempo que tinha
Agora já é tarde demais
Pra dizer que é tarde demais
Falsos brilhantes que perdem o charme
Assim que se chega mais perto
Era ensolarado, um dia azul e agradável
Daqueles que prometem muito mas não acontece nada
Outro dia no front
Eram borboletas no estômago
Ou um nó nas tripas?
Devaneio de lagarta em casulo
Tinha tudo pra dar certo
Mas não sai do lugar
Tentando não perder tempo
Perdeu todo o tempo que tinha
Agora já é tarde demais
Pra dizer que é tarde demais
sexta-feira, 7 de agosto de 2015
(Des)Embalos de Sexta-Feira à Noite
Hoje, nesta sexta feira, sete de agosto de dois mil e quinze eu me senti sozinho como não me sentia faz tempo. De um jeito em que só me dói assim nas noites de natal, uma vez por ano. De um jeito que me murcha as bochechas como se eu não comesse há semanas e me seca a saliva da boca como se eu tivesse engolido um quilo de sal. Com uma gana tão grande de ver o mundo e ver gente, de sorrir e dançar, com uma sede que secaria algumas garrafas e queimaria alguns maços de cigarro. E ao mesmo tempo, a realidade.
Olhando contato por contato na agenda de telefone, que nem é lá essas coisas, não se encontra nada. Gente que mora longe, gente que tá namorando e sumiu, gente com quem eu nem falo mais e gente que nem fala mais comigo, casos do passado que terminaram mal e com quem nem se fala mais e sabe-se lá porque diabos todos esses números ainda não foram deletados (talvez pelo simples fato de não querer que minha agenda de contatos seja ainda menor). As opções são poucas, e hoje, só por hoje, eu não quero ficar sozinho, mesmo que a companhia nem seja legal. Hoje eu só queria falar e ouvir, conversar. Mas o silêncio é maior que qualquer música que eu colocar pra tocar, o silêncio é aqui dentro.
E mandar mensagem pra gente que nem responde ou telefonar pra contato que nem atende, pra outro que não pode sair hoje, pra gente que tem prova amanhã, pra outro que "tá passando muito mal", pra gente que atende e diz que tá com muita saudade e louca pra te ver mas não fala com você faz meses e tá meio ocupada e precisa desligar. Gente que te responde com a maior frieza meio como se sentisse até algum prazer em te rejeitar. Uns créditos e uns minutos jogados fora junto com alguma dignidade, se é que eu tenho ou já tive isso. No fim das contas parece que todo mundo já tem algo programado (mesmo que o programa seja não fazer nada) ou alguma desculpa na ponta da língua pra rejeitar qualquer convite. Meio como se todo mundo tivesse indo pra algum lugar ou já tivesse achado esse lugar, e eu continuo por aqui. Talvez esse seja o meu lugar.
Me sinto a última pessoa do Rio de Janeiro, aquele que não telefonariam nem em caso de emergência, nem que tivesse pintado de ouro. Nas ruas, todo mundo com suas roupas de sexta feira, saindo de casa, chamando seus taxis e marcando alguma coisa. E eu por aqui, voltando pra esse bloco cinza que quase nem aguento mais, mas também não consigo jogar fora. Olho pras paredes amareladas do meu quarto e me vejo nelas, embolorando. Talvez o mais engraçado disso seja que no fim das contas, lá no fundo eu só quero ficar sozinho mesmo. Nesse abraço sem braços, nesse sussurro sem voz, nesse friozinho quase gostoso, quase mais mãe que minha própria mãe. E como diria mamãe, toda essa vontade de cores, sabores e sons "é só fogo no rabo".
De certa forma, quem fez isso tudo fui eu. Essa distância, essa frieza e essa recusa, tudo obra minha, arquiteto de mãos grandes que um dia já apertaram muitas outras mãos, mãos grandes que já tatearam o mundo no escuro e já mataram e fizeram renascer. E no escuro ainda mais escuro hoje jaz, se é que é possível. Que dor dói menos? Qual vazio é menos vazio? Não importa muito, eu acho, dá pra preencher com fumaça. Hoje o mais longe que eu vou é ali na esquina comprar cigarro. "É sexta feira, amor".
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