Hoje, nesta sexta feira, sete de agosto de dois mil e quinze eu me senti sozinho como não me sentia faz tempo. De um jeito em que só me dói assim nas noites de natal, uma vez por ano. De um jeito que me murcha as bochechas como se eu não comesse há semanas e me seca a saliva da boca como se eu tivesse engolido um quilo de sal. Com uma gana tão grande de ver o mundo e ver gente, de sorrir e dançar, com uma sede que secaria algumas garrafas e queimaria alguns maços de cigarro. E ao mesmo tempo, a realidade.
Olhando contato por contato na agenda de telefone, que nem é lá essas coisas, não se encontra nada. Gente que mora longe, gente que tá namorando e sumiu, gente com quem eu nem falo mais e gente que nem fala mais comigo, casos do passado que terminaram mal e com quem nem se fala mais e sabe-se lá porque diabos todos esses números ainda não foram deletados (talvez pelo simples fato de não querer que minha agenda de contatos seja ainda menor). As opções são poucas, e hoje, só por hoje, eu não quero ficar sozinho, mesmo que a companhia nem seja legal. Hoje eu só queria falar e ouvir, conversar. Mas o silêncio é maior que qualquer música que eu colocar pra tocar, o silêncio é aqui dentro.
E mandar mensagem pra gente que nem responde ou telefonar pra contato que nem atende, pra outro que não pode sair hoje, pra gente que tem prova amanhã, pra outro que "tá passando muito mal", pra gente que atende e diz que tá com muita saudade e louca pra te ver mas não fala com você faz meses e tá meio ocupada e precisa desligar. Gente que te responde com a maior frieza meio como se sentisse até algum prazer em te rejeitar. Uns créditos e uns minutos jogados fora junto com alguma dignidade, se é que eu tenho ou já tive isso. No fim das contas parece que todo mundo já tem algo programado (mesmo que o programa seja não fazer nada) ou alguma desculpa na ponta da língua pra rejeitar qualquer convite. Meio como se todo mundo tivesse indo pra algum lugar ou já tivesse achado esse lugar, e eu continuo por aqui. Talvez esse seja o meu lugar.
Me sinto a última pessoa do Rio de Janeiro, aquele que não telefonariam nem em caso de emergência, nem que tivesse pintado de ouro. Nas ruas, todo mundo com suas roupas de sexta feira, saindo de casa, chamando seus taxis e marcando alguma coisa. E eu por aqui, voltando pra esse bloco cinza que quase nem aguento mais, mas também não consigo jogar fora. Olho pras paredes amareladas do meu quarto e me vejo nelas, embolorando. Talvez o mais engraçado disso seja que no fim das contas, lá no fundo eu só quero ficar sozinho mesmo. Nesse abraço sem braços, nesse sussurro sem voz, nesse friozinho quase gostoso, quase mais mãe que minha própria mãe. E como diria mamãe, toda essa vontade de cores, sabores e sons "é só fogo no rabo".
De certa forma, quem fez isso tudo fui eu. Essa distância, essa frieza e essa recusa, tudo obra minha, arquiteto de mãos grandes que um dia já apertaram muitas outras mãos, mãos grandes que já tatearam o mundo no escuro e já mataram e fizeram renascer. E no escuro ainda mais escuro hoje jaz, se é que é possível. Que dor dói menos? Qual vazio é menos vazio? Não importa muito, eu acho, dá pra preencher com fumaça. Hoje o mais longe que eu vou é ali na esquina comprar cigarro. "É sexta feira, amor".
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