domingo, 21 de fevereiro de 2016

Verão Pilacão

"Era verão no horário de verão..."

Sexy delícia, perito exercendo perícia. O mundo é enorme, o mundo é nosso; a maior expedição de todas. Calçadas, copos, corpos, doses, beijos, as luzes da cidade brilhando por uma luz diferente, esquecida mas reencontrada, reconhecida, abraçada. Em um grande zoológico cheio de bichos e suas peculiaridades, me fiz mais um, lambendo minhas patas sujas de sangue, e observando o entorno, repousando sob o sol de qualquer praia, sacana, impávido. Passageiro, transformei o mundo na minha própria casa, sem destino, sem amarras, batendo asa em qualquer quintal pelo simples prazer de voar. 

O melhor verão de todos foi também o pior. Foi necessário, foi quase perfeito. Tem aquele ditado horrendo que diz que algumas crianças só aprendem mesmo na base da porrada...vai ver é verdade. Precisei da maior surra de todas. E quando levantei, levantei rindo do próprio açoite sabendo que meu deboche ainda vai me matar, talvez a saudade. Mas de amor, ninguém morre. Não existe humilhação, só se humilha quem gosta. Reclamar não resolve problema nenhum. Quem tem duas mãos e duas pernas funcionando já tem metade das ferramentas para ser feliz. 

No calor infernal da Babilônia de pedra eu levantei e saí andando para qualquer lugar. Deixei os estilhaços para trás porque cacos não servem para nada. Matei para não morrer e fui morto para que não morressem. Com os braços mais fortes do que nunca, comecei a construir minha Torre de Babel. Nada pode me parar, nada é impossível para quem quer. A epifania agridoce me fez renascer, e eu não preciso de muito, só do suficiente. 

Entendi o tamanho do meu sonho, da minha força, compreendi que nada nesse mundo é mais importante que meu sorriso e minha satisfação. O egoísmo é a musa da destruição, e não há razão em conservar mortalidade, quando eu morrer eu descanso. Aceitei meu fardo e me tornei maior que meus demônios.  Autodidata, aprendi que o silêncio tem mais razão que qualquer frase e grita mais que qualquer garganta. Mas às vezes é importante falar. Reaprendi que dar é muito mais importante que receber. E nem quero nada. Vi que às vezes melhores amigos se tornam desconhecidos e desconhecidos se tornam melhores amigos. 

Monge sem nenhuma disciplina, ganhei (ou perdi) alguns anos em alguns meses, meu voto de silêncio me fez maior, como Atlas carregando o mundo sobre os ombros, Titã da solidão. Boto fogo no hasha e espero o Sol se por. Pensamento evoluído cheio de fumaça e fome de vida. Nesse verão eu deixei de ser um menino, algo em mim morreu para que algo novo pudesse ganhar vida.  Zaratustra na multidão com um bronzeado de chumbo olhando as mulheres passando e assistindo a noite chegar. Hoje tem lua cheia e é uma noite linda para passear por aí. 




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