domingo, 1 de outubro de 2017

Sobrevivente

Tem até uma merreca no meu bolso mas eis me aqui roubando doce na Loja Americana. Entrando no metrô de volta pro futuro, o abismo é o vão entre o trem e a plataforma. Todo mundo junto se sentindo sozinho e eu, expectador e antagonista do meu próprio filme de terror brasileiro.

Só pega um lado do fone e Os Afrosambas já tá terminando e já tá quase na minha estação. "Ela não sabe quanta tristeza cabe numa solidão"...

Tava com saudade da Tijuca. E a rua tá cheia de uma energia que eu não consigo explicar. Parece que tem uma galera andando comigo e eles estão morrendo de sede e volúpia. Engenheiro de castelos de areia, a planta já está feita e daqui pra lá é só morro abaixo. Do jeito que eu gosto. 

Meu pulmão já tá meio baleado mas meu pique ainda é tipo Ronaldinho. Me esquivando dos tiros igual o cara do Matrix, cada dia a mais é um dia a menos. Me deitaram de porrada e amanheci de ressaca. Comeram meu coração e eu continuo por aí, ainda tem um monte de merda pra fazer. A coluna tá toda chumbada, mas eu ainda estou de pé. Me juraram de morte e me mataram de rir. No fim das contas, eu sou sobrevivente, na selva de pedra é preciso ser cara de pau. 

De mesa de bar em mesa de bar vamos eu e meus encostos bebendo pra caralho, meu copo de whisky é o Santo Graal. Só se vive uma vez, e todo dia eu morro um pouco. Por aqui todo dia é quarta feira de cinzas mas o bloco continua na rua. Minha carne é de carnaval. E meu coração...




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