Há exatamente um ano atrás mais ou menos a essa hora da noite você me dava o último beijo me assegurando de que não era a última vez que nos veríamos, que não era uma despedida e que era só pra dar tempo de os ânimos se acalmarem, que me amava e já sentia saudades antes mesmo de eu ir.
Foi a última vez que nos vimos. Nunca mais. E depois de você eu continuei por aqui, meio perdido, meio jogado, nunca mais fui o mesmo. Por um bom tempo só consegui machucar quem tentou se aproximar, só consegui correr das coisas, das pessoas, de mim mesmo, fiz bastante besteira com os outros e comigo mesmo por aí.
Vez ou outra, ainda acontece de eu estar andando pelo centro e te procurar em algum ponto de ônibus ou pelos bares que a gente costumava ir, e passar pelos lugares onde juramos amor eterno e demos tantos beijos bêbados e apaixonados. Foi divertido enquanto durou.
O mais engraçado e patético de tudo é a estranheza com que dois extremos opostos foram se esbarrar e sentirem necessidade de andar de mãos dadas por aí, de não desgrudar. Vai ver foi só fogo no cu, vai ver foi só falta de vergonha na puta da cara. Hoje eu consigo ver que tanto você quanto eu precisavamos demais tampar um buraco enorme em nossos corações.
Depois desse tempo todo eu tomei coragem pra rever nossas fotos e ler suas cartas pra mim, as brincadeiras em guardanapos de bar e todos os bilhetinhos que você adorava esconder pelo meu quarto pra me fazer sorrir quando eu encontrasse e você não estivesse por perto. Das chuvas que a gente já tomou rindo e chorando, de você cantando pra mim super desafinada, das nossas brigas loucas e de quando cada um estava em um lado da cidade e corria pra se ver o mais rápido possível só pra tentar fazer ficar tudo bem, mesmo que sem sucesso. Como se fosse capsula do tempo, abri a lata onde guardava tudo, hoje, meio enferrujada, corroída...
Entre sorrisos e choro, tudo ao mesmo tempo, eu lembrei de tudo, desde o início até o final. Realmente foi algo muito legal, no pouco tempo em que deu certo. Mas foi um erro. Milhares de erros. Meus, seus, nossos. Eu tentei encontrar você antes de pensar em encontrar a mim mesmo, e acabei me perdendo ainda mais. Você era mais perdida do que eu e pra cada barreira criava um monstro pra jogar em cima de mim. Eu matava os monstros me tornando um monstro ainda maior, e a gente cada vez menos conseguia se olhar no olho, abrir o coração pro outro, por vergonha, medo, cansaço, ou simplesmente porque já vinha percebendo que não serviria de nada...
E depois desse tempo todo eu finalmente não me pergunto mais o que que fiz de errado por entender que tudo foi um erro, já não importa mais. Mas todos os meus erros me fizeram aprender a ser alguém bem melhor hoje. E todos os seus erros me ajudaram a ser bem menos ingênuo hoje. O tempo e a energia que a gente perdeu persistindo no erro foi o tempo em que a gente deixou a si mesmo de lado. E nesse tempo você ficou mais cinza, eu também, como se a gente tivesse envelhecido 10 anos em um ano só.
Desculpa por tudo. E obrigado por tudo também. Pelos sorrisos, pelos segredos, pela grosseria e pelas mentiras, pelo carinho enquanto durou, e até por quando você não aguentava nem mais dormir ao meu lado e me fazia chorar a noite inteira. Foi um aprendizado doloroso porém incrível e eu cresci um bocado nisso de me perder e perder você. Tomara que você tenha aprendido algo também. Que seja bem feliz, e que nunca te façam as coisas como fez comigo. A gente se esbarra. ou não. Boa sorte.
Um comentário:
"Deve nutrir-se carinho por um sofrimento sobre o qual se soube construir a felicidade, repetiu muito seguro. Apenas isso. Nunca cultivar a dor, mas lembrá-la com respeito, por ter sido indutora de uma melhoria, por melhorar quem se é."
(do capítulo quinze, O Crisóstomo amava por grandeza)
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