sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Entremeio ou Delírio de lagarta em casulo

O trabalhador sai e ainda nem tem Sol no céu, ônibus lotado, Avenida Brasil. "Todo mundo junto se sentindo só, no peito um aperto, na garganta um nó". Os vagabundos já enjoaram da noite (que horas atrás era só uma criança) e começam a caçar o caminho de casa ou qualquer canto pra cair. A mãe preta varre o terreiro, daqui a pouco o galo vai cantar, bom dia, levanta pra cuspir com a glória de Ogum. Todo mundo indo para algum lugar, cada um com seu destino, cada um, um desatino. 

Entremeio,
Descompasso,
Peito cheio,
Um abraço.

Pra quem quiser um abraço.

Enquanto o mundo gira, eu continuo aqui, enquanto o mundo é mundo, eu sou só isso. Ou nada. Calor carioca, tem gente que é mar. Tem gente que é represa, tem gente que nem gente é. E eu continuo aqui. Vendo as paredes do quarto, enclausurado, me sentindo um cachorro com a boca espumando, tanta vida no meu peito, mas parece que não é para mim.

Faz falta uma ponta, um carinho, uma dose,
Qualquer coisa pra acabar com essa psicose.

De segunda a segunda, cada dia é uma briga, daquelas brigas já tão velhas que nem se sabe mais qual é o motivo, mas se briga mesmo assim. Levantar, deitar, e entre isso, só o dia, mais um dia, uma noite, tanto faz. Entre uma ressaca e outra, entre uma lágrima e outra, bêbado de poder ou de ilusão? Vivendo por amor ou por amor à decepção? Todo poeta é mentiroso, mas quem se diz poeta será poeta mesmo? Quem disse que as suas ou minhas palavras prestam pra qualquer coisa? Todo poeta merece morrer. Um gole de arrogância, que cachaça hoje, não tem. Vez ou outra, todo mundo vomita a verdade. Quando vomita a alma.

Eu sou puro ou não sou?
Tremedeira outra vez,
O problema é comigo,
Ou é com vocês?

Cada um com seus problemas, seus demônios, suas crenças. Já acreditei tanto que não acredito mais. Nem em mim, às vezes. Príncipe do lixo, trono de entulho, coroa de espinhos, minha coroa não vê a hora de eu ir embora, e eu nem vejo também. Eu já perdi o bonde ou a banda já passou? O homem esconde seus delírios ou os delírios se escondem do homem? Tem gente que dá medo, tem gente que tem medo, tem gente que é gente, tem gente que nem é. Nada. 

Daqui a pouco nasce o Sol, e eu continuo aqui. 

Bom dia?

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