quarta-feira, 15 de março de 2017

Amparo

Já faz um tempo eu não conto com a sorte
Saber apanhar é a essência de ser forte 
Na colcha de retalhos eu sou só mais um recorte
Estou esbanjando vida, sorrindo pra morte 

Já faz um tempo eu não conto com ninguém
Saber ser só é a a essência de estar bem
Entre um velório e outro eu permaneço zen
Aquilo que vai deixa espaço pro que vem

Como se a vida fosse um resumo do que acontece
Entre o primeiro e o último batimento cardíaco
Tempo onde as coisas começam e terminam
E a gente só se dá conta quando é tarde demais

Já tive histórias com desfechos desleais,
Noites inesquecíveis que eu já nem lembro mais
Entre dias de Sol, tempestades e vendavais,
Fins são novos começos ou a vida é feita de finais?

A arte imita a vida ou será que a vida imita a arte?
Filho do deus da guerra, Áries, eu vim de Marte 
A gente se perde para se encontrar,
Ou acha que se encontra pra reafirmar que está perdido?

Assim vivemos

Até que a morte nos separe
Até que a morte nos repare
Até que a morte não separe
Até que a morte nos ampare 

domingo, 12 de março de 2017

Inferno Astral Pt. II - Redenção


Acho que não sei mais falar de amor. Vai ver meu conceito de amor tenha se transformado em algo muito maior. Talvez tenha desaparecido. Também não quero mais falar de ódio. Porque a razão e a organização podem derrubar qualquer rei. Hoje, prefiro falar das coisas e do mundo. Sentado em um canto, assumi meu posto de observador, como um móvel no canto da sala que acaba se tornando parte do ambiente, silencioso, seguindo pela sombra. 

Vejo a banda passar e também sou passageiro. Nômade sem lar, minha mochila é minha casa. Apesar de tantas diferenças, no fim das contas somos todos semelhantes. Pequenininhos perante o tempo, o universo; "nada se perde, tudo se aproveita". Arquiteto de castelos de areia, aprendi a transformar trincheiras em jardins, a encontrar meu lugar em qualquer lugar. Descobri que dormir no chão é melhor que dormir na cama. E que o céu estrelado é um bom cobertor. 

Não faço a mínima questão de ser visto. Muito menos de estar com a razão. Só sei que não sei quase nada. E o pouco que sei fica em segredo. Enquanto os certos de tudo lutam pela verdade absoluta, descobri que é preciso quase nada para estar em paz. Aqui no canto é frio. Mas sempre fui um preto calorento. Aqui no canto, descobri que o mundo inteiro é só um canto, então, qualquer canto é minha casa. Aqui no canto pouca coisa perturba o silêncio. 

Formas de vida com a composição baseada em carbono, cada respiração traz um pouco de morte para dentro. Mas é com gosto que eu inspiro, respiro e me inspiro. Ao mesmo tempo que o relógio é meu melhor amigo também assume o papel de meu pior inimigo. Se existe alguma entidade superior que possa ser denominada deus, talvez estas entidades sejam a natureza e o tempo. 

Regido pela Lua, sigo entre idas, vindas, erros, acertos e poucas horas de sono, nunca me senti tão grande sabendo que sou tão pequenininho. O mundo é injusto e cruel e ao mesmo tempo lindo, como todos nós. Um brinde ao nada. Pois do nada, tudo se cria. 

domingo, 5 de março de 2017

Fotografia

Fragmento de tempo congelado para sempre, imóvel, meio que tetraplégico. Nada ali vai a lugar algum, é imutável. Porém, finito. Registro fiel de tudo que poderia ser. De tudo que já foi. Contrastes de tudo que parecia ser. O futuro a gente constrói agora. O passado também. Um sorriso verdadeiro ou um sorriso forçado, uma pose ou um clique surpresa, memórias aprisionadas em imagens para satisfazer a nostalgia. Fotografias talvez sejam o que reside entre as idas e vindas. Preenchendo ou aumentando lacunas. Deixando registrados todos os erros e acertos do homem e sua megalomania, os castelos e as ruínas construídos a partir de sentimentos e ideais. Fotografias podem encher os olhos. Esvaziar, também. No fim das contas são só imagens. No fim das contas, as melhores fotografias ainda são (e sempre serão) as que se tira com os próprios olhos.





Vi um outro eu preso em uma fotografia
Imóvel e sorrindo, como se fosse magia
Matiz do tudo e o nada que já fui um dia
Um gole de saudade,um trago de nostalgia
Início, meio e fim de uma triologia