quarta-feira, 9 de abril de 2014

A morte da poesia

Café Gelado, sem açúcar, sem afeto, sem sabor, bom dia pra você. Um beijo apaixonado e um sorriso sincero. "Todo dia ela faz tudo sempre igual." Mas hoje não. Hoje você fica em casa e eu vou trabalhar sozinho. Apagando sonho por sonho, como cigarros no cinzeiro, queimei os dedos e nem senti dor. Uma dose antes de subir pro escritório e mais café sem açúcar (e sem afeto) para tirar o bafo de whisky. Alô, bom dia, posso ajudar, pois não. Os ponteiros no relógio dando um nó na parede, e são 11:13. Hoje não. As horas voando e todo mundo envelhecendo a cada segundo, a gravidade puxando tudo para baixo. Trânsito caótico, fome e um cigarro no fundo do ônibus de lanche da tarde. Passos meio indecisos indo pra casa por não ter outro lugar pra ir, e quando chego, corro para abraçá-la. Lá está ela, dormindo com um sorriso, sem roncar. Hoje não. Não parece respirar , e eu me aproximo para conferir. Um bilhete sobre seu seio, em branco, como os dias, como a alma. Entendi o recado. Está morta. A poesia está morta. Morreu dormindo, de causas naturais, sem sentir dor. Me deixou por tê-la deixado. Qualquer dia sinto saudades. Hoje não. Só consigo me preocupar em como faço pra enterrar corpo tão grande e pesado no quintal. Adeus, grande amiga. A gente se esbarra no além-vida.