segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Lua em Escorpião

Gosto quando a gente se encontra
Mas também de quando a gente se despede
É bom saber que logo menos
Tem mais beijinhos e #descubra

Saudade é a prova de balas
Mas é coisa gostosa de se matar 
Com requintes de crueldade
E paixão por mutilações

Gosto quando você me abraça
Só pra esperar o sinal fechar
Quando você dá solavancos cochilando
E quando devaneia sem perceber

Beijinhos de açaí e beijinhos de Whisky
Cochilos vespertinos pra salvar o planeta
Se o mundo acabar em pizza
Eu quero duas fatias antes de partir

É gostoso viajar com você
Desbravando as tuas curvas
Descobrindo teus mistérios
Sem pressa (e sem vergonha)

Minha brutalidade e tua delicadeza
Às vezes duvido, às vezes tenho certeza
No fim das contas, só sei que nada sei
Depois de umas doses você é rainha e eu sou rei 

domingo, 6 de novembro de 2016

Éter

Natureza morta vive,
A vida é cheia de clichês
O que seria das respostas
Se não fossem os por quês?

Às vezes o melhor destino 
É remar sem pressa à deriva
O que seria da decepção
Se não fosse a expectativa?

Entre corpo, alma e mente
Futuro, passado e presente
O tempo é só um momento
E eu, um passageiro

Semblante calmo, alma inquieta
Nem só de poesia vive o poeta 



Meu cais
É o caos

sábado, 20 de agosto de 2016

Reflexo/Refluxo

Se você morresse hoje, 
As pessoas lembrariam de você por algo bom?
Você teria dito e feito tudo aquilo que sente que precisa?
Ou será que o que você acha que precisa 
Não é tão necessário assim?

Enquanto você está vivo,
O que você faz para que o mundo seja um lugar melhor?
Reclamar não melhora nada
Desculpas não consertam erros
Mas é errando que se aprende

Em quem você pensa antes de dormir?
Você às vezes sente vontade de fugir?
Onde você se vê daqui a cinco anos?
O que você faz pra por em prática seus planos?
Você está vivendo ou apenas está vivo?
Não importa muito, é tudo meio relativo 
Seu copo está meio cheio ou meio vazio?
Pra você algo morno já é melhor algo que frio? 
Porque você mesmo nunca segue o seu conselho?
O que você vê quando se olha no espelho?


O tempo tá passando...

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Pó esia

Palavras ao vento
Esfarelam
Essa porcaria
É poesia

domingo, 7 de agosto de 2016

Apêndice

Minha cidade é uma das mais bonitas do mundo, mas é também uma das mais violentas. Resumindo, fui assaltado. Passado o susto e questões sociais à parte, fiquei sem celular. E nessas de não ter celular tem sobrado bem mais tempo pra pensar, pra ficar comigo mesmo e em vez de passar o tempo com a cara na telinha eu tenho observado muito mais o mundo e as pessoas ao redor. Olhando a vida cinicamente, cheguei a me surpreender constatando como somos tão dependentes dessa maquininha. Dormimos com o celular embaixo do travesseiro e acordamos com ele nos despertando. Levamos ele até pro banho! Celulares acabaram se tornando uma extensão do corpo do usuário. 

Tenho visto as pessoas feito loucas caçando pokemons pela rua, andando corcundas a ponto de tropeçar...no metrô, ouço barulhos de unha batendo nas teclas imaginárias das telas de LCD e pessoas perguntando "você viu o que eu postei no feisse?". Hoje em dia as frases de piada de internet viram moda e são repetidas até que uma nova moda surja e apague a anterior...é incrível a velocidade como as coisas se tornam obsoletas e são rapidamente substituidas por algo que será explorado e esgotado até ser trocado por algo novo em ciclo vicioso. É triste ver que as pessoas também fazem isso umas com as outras. 

Dia desses estava em mesa de bar e todos na mesa disseram que não gostam de atender o telefone e preferem falar por whatsapp. O contato entre as pessoas fica cada vez mais frio e distante, mais "prático". Ninguém se olha no olho, estão todos com a cara na tela do celular. Usa-se o celular pra mandar mensagem até pra quem está dentro da sua própria casa em outro cômodo. Com uma falsa idéia de aproximação e mobilidade, estamos ficando cada vez mais distantes uns dos outros.

Mundo de textões de facebook onde praticamente todos os textões são simplesmente para reclamar de alguma coisa ou de alguém. Postagens que destilam preconceito e intolerância e tudo se divide em direita e esquerda, onde o centro de tudo é cada usuário gritando ao mundo todo coisas pessoais sobre as quais ninguém se importa ou vê. Discussões inflamadas sem nenhuma argumentação, um ataca o outro, e todo mundo fala, mas parece que ninguém consegue (ou simplesmente não quer) ouvir o outro. 

Em vez de procurar semelhanças só se aponta diferenças e cada vez mais se segregam os tipos, as cores, as opções sexuais e tudo vira nicho, um contra o outro chingando muito na internet...mas qual texto de internet realmente mudou alguma coisa alguma vez? Gente  que posta foto de drogas e baladas como se fumar maconha fosse ser revolucionário.  No instagram não existe crise! Todo mundo é tão bonito, sarado e sensual e rico, tudo é tão perfeito...mas até que ponto o que se mostra é verdade? 

As pessoas mostram o que querem que você veja. As redes sociais são o buraco da fechadura, por onde só se vê um pequeno ponto de um grande quarto, onde muitas vezes as pessoas estão sozinhas e são infelizes. Ou estão apenas vazias, escrevendo qualquer besteira no celular. Somos a geração que quer mudar o mundo do sofá. Geração de astros de You Tube. Somos a geração que em vez de compartilhar idéias, compartilha fotos de si mesmo no espelho.


"Um milhão de seguidores sem ganhar nenhum salário
É tipo ser milionario no Banco Imobiliario"


terça-feira, 2 de agosto de 2016

Poemas

Barquinho que o vento rema
Em mar de dilúvio e dilemas
Entre teorias e teoremas
Mundo grande de gente pequena
Infelizmente, poemas
Não resolvem problemas

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Asas

Eu sou rei, minha alma é nobre
Mas nesse mundo eu sou pobre
Neguinho de favela, plebeu
Ajeito o óculos e lá vou eu
Eu sou do mundo 
E o mundo é meu
Passageiro, passarinho
Tudo que tenho são minhas asas
E não preciso de mais nada
Deus me livre não ser livre! 

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Passar Ela

Passei pela passarela
Linha reta paralela
Ponto de partida,
Ponto de chegada,
Interseção
Entre um extremo e outro


Passo ágil, sentinela
Cada olho uma janela
Carne e osso - uma cela
Criado de uma costela
Corpo de argila, alma solar
Barco à deriva no meio do mar
Vago, e ainda assim, inóspito
Na multidão, caminho incógnito


Peito cheio de vielas
Mais esconde que revela
Passei pela passarela
Linha reta paralela
Na metade, parei nela
Para olhar a Lua bela

domingo, 19 de junho de 2016

Ervilha

Meu coração é uma ervilha
Um buteco com eco, vazio
O banheiro do teco, lotado
Meu coração é horrível,
Mas tudo tem sua beleza,
Então, meu coração é lindo
E meu colesterol está sen-sa-ci-o-nal

Meu coração vale quanto pesa
Duas toneladas de amor e ódio (mais amor do que ódio)
Meu coração é um elefante branco

Muita saúde pra dar e vender
E estou dando e vendendo (quem pagar mais leva)
Pra fazer aquela grana extra
E pagar minhas conta (e outras parada)

Pois aqui alguns sorrisos são grátis, mas outros custam muito caro
Pois por aqui tudo tem seu preço e tudo tem seu valor

Meu coração é marginal
Meu coração é anti-herói
Meio entre o bem e o mal
Mais destrói do que constrói

Meu coração é ruim da cabeça e doente do pé
Mas adora sambar (todo duro e desengonçado) na cara do perigo

Meu coração é uma favela
Sem saneamento básico (esgoto a céu aberto)
Meu coração é um cinzeiro
Que esqueceram de limpar (fim de festa é foda)

Meu coração é sem querer querendo
Meu coração é o RJ no inverno (e com chuva)
Meu coração é a Sibéria 

Meu coração é uma ervilha
A soneca do domingo à tarte
A tristeza do domingo à noite
A preguiça da segunda de manhã
A lascívia da sexta feira de noite
Meu coração é presente de grego 
Mas dá pra trocar sem nota fiscal


segunda-feira, 6 de junho de 2016

O abraço mais quente



Carta gentil de um viajante perdido aos viajantes perdidos que se interessar possam:


Até que ponto o certo ainda faz sentido e o errado é realmente um erro? Tudo se confunde, as linhas são tênues (porém pesadas) como rugas no rosto de alguém notando as marcas do tempo. Quem olha de baixo pode enxergar deus. Quem olha de cima, talvez veja o demônio. Olhando de frente, se olha nos olhos (quando ainda se consegue olhar nos olhos). É tudo simples questão de ponto de vista. Quando a zona de conforto se torna a maior zona às vezes se deixa escapar muita coisa. E às vezes escapar pode ser a melhor solução. 
A eterna busca por algo que não se sabe exatamente o que é, mas ainda assim, busca-se. O inalcançável destino. Aquilo que você nasceu para ser e fazer. Ou vai ver você só nasceu para morrer. Não somos assim tão especiais e únicos, afinal de contas, existe sangue e sonhos em todo lugar. Em cada esquina existem corações tão nobres quanto os nossos. Todo mundo é bom. Todo mundo é horrível. E o destino final às vezes obscurece toda a jornada.
Em busca da felicidade a gente é capaz de fazer coisas que nunca imaginou. Coisas maravilhosas e coisas horrorosas, também. A gente fere e se fere. A gente cresce e diminui. Como a lua no céu. Errar é humano...somos nossos erros. Às vezes nossos erros tem os olhos mais bonitos da face da Terra. Às vezes nossos erros podem fazer alguém morrer de sede, de fome, ou só morrer de tristeza. Uma vez na vida e outra na morte, nossos erros podem nos fazer até ganhar milhões. Ainda assim são erros. Mas tudo floresce: "nada se perde, tudo se aproveita".
Ouse dar a cara a tapa, simplesmente ouse. E use. Abuse com moderação, que todo remédio em demasia se torna veneno. Tenha em mente que também será usado, e aprenda a degustar e entender isso. Não se esqueça que você é passageiro (como tudo nessa vida). Mas seja um bom passageiro e não seja muito espaçoso. Se suje e se lambuze, mas não esqueça de limpar sua sujeira. Nem se esqueça de descansar e olhar a paisagem, também.

Tenha em mente que por maior que seja sua solidão, você nunca está de fato sozinho e suas palavras e ações afetam outras pessoas também, o que é dito e feito nunca poderá ser desfeito. 
Lembre-se, novamente, que "em cada esquina existem corações tão nobres quanto os nossos", você não é melhor que ninguém.  Pense bem antes de fazer ou falar merda. Pense ainda mais antes de fazer algo bom, pois nem sempre nossa visão daquilo que é correto está realmente certa e seu bem pode fazer mal a terceiros. Tenha em mente que as vezes é melhor ir à 10 por hora do que à 1000, tem coisa que devagarzinho é muito mais gostoso, e disso todo mundo já deve saber. Lembre-se, ainda, que não existe verdade absoluta. Aprenda  a ouvir e aceitar que a verdade pode ter diferentes lados e que você não é perfeito e não estará certo o tempo inteiro. 

Saiba enxergar além do próprio nariz. Saiba, também, enxergar além do que os olhos vêem. Lembre-se que as fotos que você tirar com os olhos (e ouvidos e boca e coração) sempre serão infinitamente melhores que as da sua câmera. Esqueça um pouco o celular, quem quiser falar com você sempre dará um jeito de te encontrar, o resto é desnecessário. 

Não perca tempo reclamando, dê um jeito de solucionar os problemas e se esforce por isso, coloque seu coração em tudo que fizer. Não culpe os outros pelos seus problemas, saiba assumir a responsabilidade das coisas. Não alugue o ouvido dos outros se sua opinião não for requisitada. Não perca tempo sentindo raiva porque algo não foi como você esperava, o mundo não gira em torno de você e a vida é curta demais pra viver infeliz. Se cair, levante, e não esqueça que o tempo não para para esperar você se recuperar. Não apresse as coisas nem force alguém a fazer algo que não deseja, teu sorriso nunca vai ser pleno se fizer alguém chorar.

Conquiste o que é seu com suas próprias mãos, você dará muito mais valor ao que tem quando souber o esforço necessário para conseguir. Ame seus pais por mais que vocês não se dêem tão bem assim, eles matariam e morreriam por você. Quando eles morrerem você vai sentir saudade e talvez se arrependa por não ter dado aquele abraço ou relevado algumas bobeiras. Saiba entender e perdoar os erros de quem te ama e procure não errar com quem você ama. Dê valor para quem te dá valor mas evite se depcionar: não espere absolutamente nada dos outros, ninguém é obrigado a fazer ou oferecer nada a ninguém. 

Abandone seu medo de ser feliz. Mas abandone também seu medo de ficar triste. Tenha em mente que em algum momento você também poderá ser abandonado. E seja um bom aluno para aprender essa lição valiosa que a melhor faculdade não vai te ensinar. Evite se machucar, mas aprenda a ser grato pelas suas cicatrizes e tudo que aprendeu. Sempre ponha sua felicidade em primeiro lugar, mas tente não ferir os outros no processo. Descubra que sua melhor companhia sempre vai ser você mesmo. 

Leve apenas o necessário, você não precisa de tanto peso assim. Arrependimentos e ressentimentos pesam demais na bagagem de mão, uma escova de dentes já é mais que o suficiente. Escove os dentes. Viva o agora, deixe o amanhã para amanhã: Memento Mori. Não faça tanta questão de  perdões concedidos ou ganhos. A melhor forma de se livrar da culpa é abraçar-se ao pecado. O abraço mais quente. Reconfortante. Ninguém é inocente. 

Por último, tenha em mente que o caminho é muito mais importante que o destino. Você nasceu para ser e fazer tudo aquilo que dessejar ser e fazer. Não deixe que ninguém te limite e transforme teu mar em represa. Nunca deixe de procurar. Nunca deixe de errar. 

Foi o que aprendi nesses anos de viagem. Não tome nada disso como verdade, mas saiba respeitar a verdade dos outros. Espero que tenha alguma utilidade.

Boa viagem. 

PS: Não existe abrigo no meio do nada. Um brinde ao relento.



sexta-feira, 3 de junho de 2016

Aqui

Aqui
Onde as pedras no caminho
São o caminho das pedras
Onde o veneno vira soro
E o sangue não coagula

Aqui
Onde a lei é o desejo
O vício versa e vice-versa
Onde achados e perdidos
Se perdem e se encontram

Aqui
Onde até nada já é alguma coisa
Faz um friozinho gostoso
E o silêncio grita

Aqui 
Em mares de águas turvas
As pequenas alegrias 
Fazem a maior felicidade

Aqui
No olho do furacão
Encontrei o meu lugar
E fiz meu ninho

domingo, 29 de maio de 2016

Galopante

Grãozinhos de areia escorrendo na ampulheta, o relógio andando em círculos na parede. Gracioso e cruel, imponente e inexorável. Galopando com cascos gastos transitando entre a vida e a morte, o amor e o ódio, supremo, insensível. Dá e toma, oferece e nega, ensina e faz esquecer. Esculpindo história sem pressa, lúcido e solitário, desde que o mundo é mundo, talvez até antes disso, infinito até que se canse de ser. A vida é só um momento. A eternidade é um piscar de olhos. 

O tempo tem todo o tempo do mundo. 

O tempo 
É deus.

terça-feira, 17 de maio de 2016

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Coisas

Coisas que eu pergunto mas nem quero saber a resposta.
Coisas sobre as quais eu minto e coisas que finjo que acredito.
Coisa que eu não acredito nem vendo e coisa que nem acredito que estou vendo.
Coisas que passei por cima e coisas que passaram por cima de mim.
Coisas que eu desisti de resolver na conversa e coisas sobre as quais eu quero conversar.
Coisas e pessoas que eu gosto de testar e coisas e pessoas que gostam de me testar.
Coisas das quais eu me orgulho e coisas das quais eu me arrependo.
Coisas que eu me esqueço e coisas que eu não quero nem lembrar.
Coisas das quais eu desisti - coisas que deixei para trás.
Coisas que construí e derrubei para reconstruir.
Coisas que adoro e coisas que detesto.
Coisas que serão para sempre a mesma coisa.
Coisas que nunca mais serão a mesma coisa.




Deus sabe o que faz. O Diabo também. 
São apenas coisas. 







segunda-feira, 11 de abril de 2016

Inferno Astral - Purgatório

Hoje eu não sei dizer se o copo está meio cheio ou meio vazio, é só um copo. Não consigo dizer se estou feliz ou triste, rebordosa de tudo com um monte de coisa, essa porra ainda vai me matar. Vinte banhos não seriam o suficiente pra fazer eu me sentir mais limpo ou mais calmo, só de lembrar já dá vontade de arrancar minha mão a mordidas. Toda essa sede de destruição, esse impulso de me chocar contra qualquer coisa só pra admirar o acidente, o cérebro parecendo uma uva passa, a dor de cabeça, o corpo pesado, metade da noite é só um borrão na memória, "se eu não lembro eu não fiz". Mas eu lembro de toda sujeira. 

Aguardando friamente o impacto iminente como mosca que cai na teia da aranha e não consegue voar. São e salvo feito gato escondido com o rabo de fora. Entediado igual criança de castigo porque fez bobeira. Braço no lugar de perna, pulmão no lixo, cabeça no pé esquerdo, coração no pé direito, hoje tá tudo fora do lugar. Fazia um tempo que eu não visitava o fundo do bueiro e é incrível a sensação de "lar-doce-lar".  A vontade de sair correndo (mas pra onde?) quase me faz parar de funcionar.

A alma derrete como os relógios de Salvador Dali. O tempo escorre entre os dedos. E o pior é que eu ando meio sem tempo pra ficar perdendo tempo. Mas se fosse de outro jeito não seria eu. Cansei do purgatório, já paguei todos os meus pecados. Mais alguns dias e eu termino de cumprir minha pena e viro anjo no céu. Mas por enquanto eu permaneço como uma rocha, elegante como Zé Pilintra fumando um cigarro na esquina, intrépido como Zumbi, sem medo da morte como Tiradentes.  

Toquei fogo em tudo e não sobrou muita coisa, as pontes foram queimadas, não tem volta. Hoje à noite não tem estrela nem lua nesse céu nublado. Não tem pódio nem troféu, não tem festa nem saideira, hoje só tem eu comigo mesmo. E hoje eu tô vestindo até carapuça pra me esquentar do frio que tá fazendo por aqui. 

quinta-feira, 7 de abril de 2016

terça-feira, 5 de abril de 2016

Caleidoscópio Sintético

Esqueceu a calcinha no banheiro da boate
Pediu caipirinha e eu pedi um conhaque
A conta e um cigarro pra desanuviar
Muita sacanagem pra pouco elevador
Tchauzinho pra câmera, despudor
Essa doida mora no sétimo andar

Abre a porta e já vai se despindo 
Pega um cigarro e me pergunta rindo
Se eu tenho fogo
Mais louca que a Janis em Woodstock
Me despe com pressa e coloca um rock
Segundo round do jogo

Enquanto ela dança feito louca e sacode a poeira
Eu percebo, até mesmo a eternindade é passageira
Mas em mim se eterniza
Num beijo assassino, na minha lingua deixa uma bala
Tem quem se faça presente mesmo sem estar na sala
Mas não corta minha brisa

Hoje ela é minha, hoje eu sou dela
Eu um vira-latas e ela uma cadela
A noite virando dia clareia a janela
Um sorrisinho com cara de sequela
Nas vidas infindas, meu mal é meu bem
Nas idas e vindas, ela vem, ela vai, ela vem...

Mais rápido, mais forte, um tapa, um carinho
"Tá muito alto, vai acordar o vizinho!"
O mundo acelera, eu aumento a marcha, taquicardia
É bom mas é ruim, é prazer com agonia
Por um segundo, parece que vou desmaiar
A garganta trava e eu não consigo nem falar

No fim a gente esqueceu até de se apresentar
As paredes do quarto dela começam a derreter 
Quando termina eu só quero me vestir e correr 
Um monte de veneno pra acusar no exame de sangue
Tudo que vai volta, o Karma é um bumerangue
Pra onde eu vou agora com tanta onda pra gastar?

O amor e suas variáveis - lisérgicas
Sujeiras ao pé do ouvido - poéticas
Entrega e substâncias -  sintéticas
Liberdade + vazio = pura estética

quinta-feira, 17 de março de 2016

terça-feira, 8 de março de 2016

Les Fleurs Du Mal



A oitava maravilha do mundo. Veneno e remédio, amor e ódio, a coisa mais bonita, obra conjunta de deus e do diabo. A delicadeza e a força, a beleza, a hipnose, a casa do milagre.

Avante! 

Feliz dia da mulher. 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Alterego

Chego sem ser chamado e me instalo (porque às vezes você grita por mim sem dizer sequer uma palavra) . Venho como navalhas querendo dominar o mundo, salvar os navios que estão afundando e afundar meu cavalo. No dia seguinte quem vai acordar com dor de cabeça e gosto de cinzeiro na boca é você e eu já estarei longe. Você me deixou sair e agora a gente divide as noites dessa festa sem fim que você resolveu criar. Tomaremos a saideira até o dia em que algum motorista não conseguir frear a tempo e te atropelem de verdade ou te matem na volta pra casa. Quanta birra, quanta marra! Eu sei que tem vez que você sai de casa duvidando sobre o retorno. Às vezes eu penso que você não vai aguentar por muito tempo, mas aí você vai e me mostra que vaso ruim é quase imortal e eu entendo e reafirmo o porque de ter te escolhido. Meu paladar prefere gente de alma torta, e é por isso que eu gosto tanto de você. 

Sou choroso, dou gargalhadas, bebo como uma esponja, fumo como uma chaminé, minhas cantadas baratas funcionam e eu sempre te levo pro lugar certo como um míssil teleguiado, eu sou o filho da puta que mora em você. Gosto muito de você, criança. A gente chora mas também se diverte bastante. Eu amo a carne, eu amo a vida, amo a festa e adoro o caos. Preferimos as chaves de cadeia e as sarna pra se coçar, um problema a mais é sempre bem vindo. Não gosto de chamar atenção mas adoro provocar.  Você também anda bem inspirado seguindo o Martinho da Vila do seu jeito meio entortado (cores, idades, amores, sabores). Samba, eu gosto de samba! Mas não sei sambar, prefiro observar, temos isso em comum. Gosto de beber, mas prefiro mesmo é um bom Marlboro, e de uns tempos pra cá tenho adorado o cheiro do teu remédio pro glaucoma, mas me deixa com preguiça. Já esses outros venenos, eu não aprovo não. Não gosto de chegar e encontrar a casa desse jeito, toda bagunçada, revirada, esse trabalho é meu, e eu faço com algum charme, algum glamour. Já meu concorrente só te destrói gratuitamente e você só me pega de mau humor. 

O cheiro de álcool e substâncias me atrai, eu vou aparecer quando você nem imaginar, ou quando você mais precisar, nunca vou te deixar na mão, nem você a mim. Venho quando você fica à flor da pele, apareço na tua embriaguez para curar seu defeito (ou agravá-lo ao cubo). Bode expiatório, herói; eu sou você, você sou eu, como unha e carne, até o fim! E quando você sabe que basta mais uma única dose para que eu venha para a festa essa dose fica ainda mais gostosa. Ou mais amarga. Mas você sempre bebe, porque lá no fundo você me adora e adora ir aonde eu te levo. E quando você sente que eu estou chegando, tudo muda para o paraíso ou o inferno em um piscar de olhos, e qualquer calmaria vira tempestade. Tem dias em que é ótimo sair na chuva e se molhar e deixar gente molhada. Tem dias em que eu te levo pro fundo do bueiro e parafuso a tampa para que você se lembre que é só um homenzinho e baixe essa bola. Você sabe que eu adoro essa merda. E eu sei que você também adora. Hoje é sexta feira e ainda é hora do almoço, mas você já acordou pensando em mim. Pode deixar que mais tarde eu apareço e te levo pra dar um passeio, você cuida só de fazer a gente ir e voltar. 





Com algum carinho, 

J. 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Vira-Mundo

Minha casa é minha mochila
O casco da tartaruga
Levo o mundo na pupila
Só me prendo a minha fuga
A Terra é a minha mãe,
A rua, minha namorada
O mundo é o meu quintal
E eu sou criança levada

Entre as idas e vindas
As chegadas e partidas
A beleza de tudo
E a grandeza do nada
A porta pra rua é
O começo da estrada

Vôo por aí, sou passarinho
Vou leve bem longe do ninho
Asas foram feitas pra voar 
Eu me perco para me encontrar
Ventania é sopro de vida
Com o meu bloco na avenida
Entre o caos, o bem e o mal
Faço de cada dia um carnaval

Para tudo se tem jeito,
Não existe o impossível
Não há crime perfeito
E nem plano infalível
Entre o peso e a medida
Entre a faca e a ferida
O recuo e a investida
Entre a morte e essa vida
Entre o dito e entre o feito
Entre o pulmão e o peito

Há um mundo inteiro além do sofá

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

La Belle Indifférence

Olhinhos de gata, meio felina
Faz charme e diz que nem fez
Diz que é mulher mas ainda é menina
Juntos nós dois burlamos as leis
Quem foi que disse que é proibido?
Quando é errado é bem mais divertido

Perdida no Rio, chinelinhos nos pés
Falando de morte e falando de jazz
Baixinha, falante, maluca, magrela
Doida varrida, mas eu gosto dela

Fui pra Laranjeiras sabendo que não ia te encontrar
Bebi três doses sozinho lembrando de você
Marla Singer que me atende de madrugada
Que liga pra me ouvir ou falar sobre nada 
Me sinto entre a briga do gato e da gata
Querendo você por aqui falando pelos cotovelos

Me provocando por diversão
Também se deixa provocar
Manipuladores sem coração
Sentados na beira do mar 

Bloco na rua, viva o carnaval
Me perdi entre o bem, o mal,
Teus cabelos e teu pescoço
Fiquei sozinho depois do alvoroço
Ela tem cheiro de saudade
E eu estou com saudade

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Verão Pilacão

"Era verão no horário de verão..."

Sexy delícia, perito exercendo perícia. O mundo é enorme, o mundo é nosso; a maior expedição de todas. Calçadas, copos, corpos, doses, beijos, as luzes da cidade brilhando por uma luz diferente, esquecida mas reencontrada, reconhecida, abraçada. Em um grande zoológico cheio de bichos e suas peculiaridades, me fiz mais um, lambendo minhas patas sujas de sangue, e observando o entorno, repousando sob o sol de qualquer praia, sacana, impávido. Passageiro, transformei o mundo na minha própria casa, sem destino, sem amarras, batendo asa em qualquer quintal pelo simples prazer de voar. 

O melhor verão de todos foi também o pior. Foi necessário, foi quase perfeito. Tem aquele ditado horrendo que diz que algumas crianças só aprendem mesmo na base da porrada...vai ver é verdade. Precisei da maior surra de todas. E quando levantei, levantei rindo do próprio açoite sabendo que meu deboche ainda vai me matar, talvez a saudade. Mas de amor, ninguém morre. Não existe humilhação, só se humilha quem gosta. Reclamar não resolve problema nenhum. Quem tem duas mãos e duas pernas funcionando já tem metade das ferramentas para ser feliz. 

No calor infernal da Babilônia de pedra eu levantei e saí andando para qualquer lugar. Deixei os estilhaços para trás porque cacos não servem para nada. Matei para não morrer e fui morto para que não morressem. Com os braços mais fortes do que nunca, comecei a construir minha Torre de Babel. Nada pode me parar, nada é impossível para quem quer. A epifania agridoce me fez renascer, e eu não preciso de muito, só do suficiente. 

Entendi o tamanho do meu sonho, da minha força, compreendi que nada nesse mundo é mais importante que meu sorriso e minha satisfação. O egoísmo é a musa da destruição, e não há razão em conservar mortalidade, quando eu morrer eu descanso. Aceitei meu fardo e me tornei maior que meus demônios.  Autodidata, aprendi que o silêncio tem mais razão que qualquer frase e grita mais que qualquer garganta. Mas às vezes é importante falar. Reaprendi que dar é muito mais importante que receber. E nem quero nada. Vi que às vezes melhores amigos se tornam desconhecidos e desconhecidos se tornam melhores amigos. 

Monge sem nenhuma disciplina, ganhei (ou perdi) alguns anos em alguns meses, meu voto de silêncio me fez maior, como Atlas carregando o mundo sobre os ombros, Titã da solidão. Boto fogo no hasha e espero o Sol se por. Pensamento evoluído cheio de fumaça e fome de vida. Nesse verão eu deixei de ser um menino, algo em mim morreu para que algo novo pudesse ganhar vida.  Zaratustra na multidão com um bronzeado de chumbo olhando as mulheres passando e assistindo a noite chegar. Hoje tem lua cheia e é uma noite linda para passear por aí. 




terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Cicatriz

- Já reparou que a gente sempre só se encontra depois de uma da manhã?
- Já reparou que a gente sempre começa ou termina na praia?
- Hoje a gente vai terminar lá em casa.
O mundo é uma grande cama e dá pra ouvir gente cochichando. Ela gosta ainda mais quando tem gente assistindo. Ele também. Amsterdam carioca e o mar por baixo do vestido dela. Dois vira-latas sem vergonha na cara nem nada pra perder. Falam sobre tudo e sobre nada, menos sobre si mesmos. É lindo e é horroroso.  Nos breves momentos de pausa e lucidez, se enxergam mais longe que a carne, mas fingem que não viram e não falam nada. Foi correndo comprar água só pra não abraçá-la. 
Gente que vive perdida no tempo vivendo o hoje, que amanhã será nada além de ontem. Gente que adora gente. Gente que nem a gente. Gente que já nem sente. Muita doideira pra um crânio só, nisso eles são ótimos em dividir. Atentados ao pudor.  Teletransporte indecente. 
- Não sabia que você fumava. Me dá um aí! 
- Pode pegar, só não tem fogo.
- Fogo eu tenho.
- Divide comigo.
Pouco cigarro pra muita gente, e enquanto ela o beija ele só pensa no cigarro queimando na mão dela sem ninguém pra fumar.  O pensamento vai de uma galáxia a outra enquanto ela o leva para seu quarto. Nem deu pra fumar direito. Entremeios e gemidos, às vezes eles se olham sem de fato se ver. E voltam pro planeta Terra. Conversando mais sem dizer nada do que quando falam alguma coisa, os corpos falam, a carne grita. A carne é sincera, a carne é maravilhosa. E eles se entendem muito bem. Mesmo tipo sanguíneo, mesmo signo, concurso de safadeza, competição de quem faz mais gostoso. Tudo em nome do esporte. Qualquer coisa que afaste o tédio.
Mordeu tão forte que sangrou. Acariciando a arcada dentária dela marcada no ombro dele, disse sorrindo que ela lhe tomou um pedacinho. Banho dado, banho tomado, carne crua, beijo roubado. Quando o fogo se abranda tudo fica humano demais. Entre afagos, peles e pelos a coisa começa a desandar. 
- Às vezes você quase que cuida de mim.
- Melhor a gente se cuidar com isso.
- Pois é...
Silêncio. Trocaram carinhos mas não trocaram mais nenhuma uma palavra. Enquanto ela dormia o gato pulou na barriga dele pedindo cafuné. Cochilou agoniado por não ter escovado os dentes. Acordou cansado pela metade da manhã dizendo que precisava sair correndo pois tinha algo pra fazer daqui a pouco. Ela entendeu o recado e consentiu. Isso foi longe demais e esse tipo de coisa não dá pra tolerar.  Um último cigarro depois de se vestirem apressados e ela o leva até a porta sorrindo sem graça. Se despediram sem nem se beijar falando de marcar a próxima vez já sabendo que essa era a última. Mesmo apertado para ir ao banheiro, foi embora com um sorriso cínico de alívio, sabendo que cachorro que mija na rua se satisfaz mais que cachorro que mija em casa. Saiu coçando a mordida pensando que vai virar cicatriz. Cicatriz daquelas gostosas de lembrar. 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Transe - Símbolo Sexual

Ao sul do ventre dela
Entre as pernas e a alma
Um símbolo sexual
Casa do pecado
Fonte do milagre

Razão de guerras e de paz
Terra fértil onde eu planto
Frutos no vosso ventre
E borboletas também

Arrepio
No pelo
Na pele
Nos pólos

Transas são
Transações
Transições
Transe

O caso, o acaso, o descaso
Apetite infinito, carnívoro, carnal
O ensejo, o beijo, o desejo
Doce veneno doce 

Convida pelo cheiro 
Pede pra ficar
Provocação debochada
Com a certeza absoluta
De que quem proura acha

Achou

domingo, 17 de janeiro de 2016

(A)Temporal

O tempo voa.
Passarinho.