domingo, 7 de agosto de 2016

Apêndice

Minha cidade é uma das mais bonitas do mundo, mas é também uma das mais violentas. Resumindo, fui assaltado. Passado o susto e questões sociais à parte, fiquei sem celular. E nessas de não ter celular tem sobrado bem mais tempo pra pensar, pra ficar comigo mesmo e em vez de passar o tempo com a cara na telinha eu tenho observado muito mais o mundo e as pessoas ao redor. Olhando a vida cinicamente, cheguei a me surpreender constatando como somos tão dependentes dessa maquininha. Dormimos com o celular embaixo do travesseiro e acordamos com ele nos despertando. Levamos ele até pro banho! Celulares acabaram se tornando uma extensão do corpo do usuário. 

Tenho visto as pessoas feito loucas caçando pokemons pela rua, andando corcundas a ponto de tropeçar...no metrô, ouço barulhos de unha batendo nas teclas imaginárias das telas de LCD e pessoas perguntando "você viu o que eu postei no feisse?". Hoje em dia as frases de piada de internet viram moda e são repetidas até que uma nova moda surja e apague a anterior...é incrível a velocidade como as coisas se tornam obsoletas e são rapidamente substituidas por algo que será explorado e esgotado até ser trocado por algo novo em ciclo vicioso. É triste ver que as pessoas também fazem isso umas com as outras. 

Dia desses estava em mesa de bar e todos na mesa disseram que não gostam de atender o telefone e preferem falar por whatsapp. O contato entre as pessoas fica cada vez mais frio e distante, mais "prático". Ninguém se olha no olho, estão todos com a cara na tela do celular. Usa-se o celular pra mandar mensagem até pra quem está dentro da sua própria casa em outro cômodo. Com uma falsa idéia de aproximação e mobilidade, estamos ficando cada vez mais distantes uns dos outros.

Mundo de textões de facebook onde praticamente todos os textões são simplesmente para reclamar de alguma coisa ou de alguém. Postagens que destilam preconceito e intolerância e tudo se divide em direita e esquerda, onde o centro de tudo é cada usuário gritando ao mundo todo coisas pessoais sobre as quais ninguém se importa ou vê. Discussões inflamadas sem nenhuma argumentação, um ataca o outro, e todo mundo fala, mas parece que ninguém consegue (ou simplesmente não quer) ouvir o outro. 

Em vez de procurar semelhanças só se aponta diferenças e cada vez mais se segregam os tipos, as cores, as opções sexuais e tudo vira nicho, um contra o outro chingando muito na internet...mas qual texto de internet realmente mudou alguma coisa alguma vez? Gente  que posta foto de drogas e baladas como se fumar maconha fosse ser revolucionário.  No instagram não existe crise! Todo mundo é tão bonito, sarado e sensual e rico, tudo é tão perfeito...mas até que ponto o que se mostra é verdade? 

As pessoas mostram o que querem que você veja. As redes sociais são o buraco da fechadura, por onde só se vê um pequeno ponto de um grande quarto, onde muitas vezes as pessoas estão sozinhas e são infelizes. Ou estão apenas vazias, escrevendo qualquer besteira no celular. Somos a geração que quer mudar o mundo do sofá. Geração de astros de You Tube. Somos a geração que em vez de compartilhar idéias, compartilha fotos de si mesmo no espelho.


"Um milhão de seguidores sem ganhar nenhum salário
É tipo ser milionario no Banco Imobiliario"


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