terça-feira, 31 de dezembro de 2013

De novo

Vai-se embora dois mil e crazy.
Vem vindo dois mil e catarse.
E eu quero mais.
Eu quero menos.
Eu quero tudo.
E quero nada.
É sempre a mesma coisa.
De um jeito diferente.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Barulho

Eu sou um grito
Você é um berro
Ondas sonoras
Desencontrando

Você é um grito
Eu sou um berro
Você acerta
Enquanto eu erro
Você é um berro
Eu sou um grito
Desafinado
No infinito

Eu sou um grito
Quebrando o silêncio
Você é um berro
Quebrando as costas

Arranha a garganta e quebra as taças vazias
Pinta o céu de vermelho com o sol poente
Engole a sanidade e desascelera os dias
Depois de tudo o silencio e mata a gente

Eu sou um berro
Que incomoda o vizinho
Você é um grito
Que chama ele pro samba

Você é um grito
De cordas vocais
Eu sou um berro
Pedindo mais
Você é um berro 
Que reverbera
Eu sou um grito
Que desespera

Você é um grito
Eu sou um berro
Nós somos barulho
Ecoando por aí

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Passeando

Dia cinza na cidade azul, que a cada dia tem sido mais cinza. Rua vazia, todo mundo em casa como se fosse domingo, como se valesse mais o sofá e a Sessão da Tarde na tv. O ano tá terminando. Para então começar tudo igual. Tudo de novo. Amanhã é dia de trabalhar, e a hora já começou a voar. Acordar cedo, sorrir, dar bom dia pra gente que você não se importa...Só penso que hoje meia dúzia de cachaça não farão mal a ninguém.


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal?

Metade das luzes de natal já queimou. Mais um gole e a essa hora eu já não sei dizer se o copo está meio cheio ou meio vazio. Está pela metade. Assim como eu. Minhas pernas, minhas costas, meu sorriso amarelo, dia chuvoso, gosto de guarda chuva e comida de microondas. A casa vazia, e o único som que se ouve é o dos meus pés batucando alguma coisa sem ritmo no chão enquanto escrevo. Tá ficando tarde e eu não consigo dormir. Tá ficando chato e eu não consegui quebrar o silêncio. Poderia ser pior, sempre pode. Mas também poderia ser só um pouquinho melhor. Vai que o papai noel chega aqui depois de entregar os presentes e vem pro sofá dividir essa vodka comigo. Vai que isso tudo é só um sonho. Ou pesadelo. Por enquanto, é só esperar o remédio fazer efeito. Que o espírito natalino tome conta do seu coração. Muita saúde pra você, indulgente que o ano inteiro deseja e faz mal para os outros, muitos anos mais de escória. Que todas as crianças ganhem os presentes que pediram. Que quem tem fome, consiga se saciar. Seja fome na barriga, ou fome na alma.

feliz natal. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

"When all is said and done, there's no love lost."

Há exatamente um ano atrás mais ou menos a essa hora da noite você me dava o último beijo me assegurando de que não era a última vez que nos veríamos, que não era uma despedida e que era só pra dar tempo de os ânimos se acalmarem, que me amava e já sentia saudades antes mesmo de eu ir.
Foi a última vez que nos vimos. Nunca mais. E depois de você eu continuei por aqui, meio perdido, meio jogado, nunca mais fui o mesmo. Por um bom tempo só consegui machucar quem tentou se aproximar, só consegui correr das coisas, das pessoas, de mim mesmo, fiz bastante besteira com os outros e comigo mesmo por aí.
Vez ou outra, ainda acontece de eu estar andando pelo centro e te procurar em algum ponto de ônibus ou pelos bares que a gente costumava ir, e passar pelos lugares onde juramos amor eterno e demos tantos beijos bêbados e apaixonados. Foi divertido enquanto durou.
O mais engraçado e patético de tudo é a estranheza com que dois extremos opostos foram se esbarrar e sentirem necessidade de andar de mãos dadas por aí, de não desgrudar. Vai ver foi só fogo no cu, vai ver foi só falta de vergonha na puta da cara. Hoje eu consigo ver que tanto você quanto eu precisavamos demais tampar um buraco enorme em nossos corações.   
Depois desse tempo todo eu tomei coragem pra rever nossas fotos e ler suas cartas pra mim, as brincadeiras em guardanapos de bar e todos os bilhetinhos que você adorava esconder pelo meu quarto pra me fazer sorrir quando eu encontrasse e você não estivesse por perto. Das chuvas que a gente já tomou rindo e chorando, de você cantando pra mim super desafinada, das nossas brigas loucas e de quando cada um estava em um lado da cidade e corria pra se ver o mais rápido possível só pra tentar fazer ficar tudo bem, mesmo que sem sucesso. Como se fosse capsula do tempo, abri a lata onde guardava tudo, hoje, meio enferrujada, corroída... 

Entre sorrisos e choro, tudo ao mesmo tempo, eu lembrei de tudo, desde o início até o final. Realmente foi algo muito legal, no pouco tempo em que deu certo. Mas foi um erro. Milhares de erros. Meus, seus, nossos. Eu tentei encontrar você antes de pensar em encontrar a mim mesmo, e acabei me perdendo ainda mais. Você era mais perdida do que eu e pra cada barreira criava um monstro pra jogar em cima de mim. Eu matava os monstros me tornando um monstro ainda maior, e a gente cada vez menos conseguia se olhar no olho, abrir o coração pro outro, por vergonha, medo, cansaço, ou simplesmente porque já vinha percebendo que não serviria de nada...
E depois desse tempo todo eu finalmente não me pergunto mais o que que fiz de errado por entender que tudo foi um erro, já não importa mais. Mas todos os meus erros me fizeram aprender a ser alguém bem melhor hoje. E todos os seus erros me ajudaram a ser bem menos ingênuo hoje. O tempo e a energia que a gente perdeu persistindo no erro foi o tempo em que a gente deixou a si mesmo de lado. E nesse tempo você ficou mais cinza, eu também, como se a gente tivesse envelhecido 10 anos em um ano só. 
Desculpa por tudo. E obrigado por tudo também. Pelos sorrisos, pelos segredos, pela grosseria e pelas mentiras, pelo carinho enquanto durou, e até por quando você não aguentava nem mais dormir ao meu lado e me fazia chorar a noite inteira. Foi um aprendizado doloroso porém incrível e eu cresci um bocado nisso de me perder e perder você. Tomara que você tenha aprendido algo também. Que seja bem feliz, e que nunca te façam as coisas como fez comigo. A gente se esbarra. ou não. Boa sorte.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Os 10 albuns da minha vida

Num tédio de domingo em plena quarta feira resolvi fazer uma lista com os 10 albuns da minha vida. Não estão necessariamente em ordem de importância, seria injusto colocar um acima do outro, pois todos eles foram trilha sonora da minha vida, Seja nos melhores ou nos piores momentos, nos momentos decisivos, nos momentos mais especiais ou de maior aprendizado, algum desses tocou e me fez enxergar algo mais, ou fechar ainda mais meus olhos. Alguns fazem parte da lista desde que eu me entendo por gente, outros entraram recentemente, e obviamente muita coisa ficou de fora, já que só peguei 10 albuns, mas cada um tem grande importância na minha formação (ou deformação) como pessoa, ser pensante (ou não) e cidadão. 




Les Discrets - Septembre Et Ses Dernières Pensées

Em um tempo onde minha vida andava tão cinza quanto a capa do album isso tocava todos os dias no meu fone, vendo o mundo passar e eu sem sair do lugar, desejando por um pouco de cor, sem me tocar que minha felicidade depende somente de mim mesmo a grosso modo. Um vislumbre de tanta vida, de um lugar onde só neva. O pouco que eu sei de francês aprendi traduzindo e aprendendo a cantar as letras dessa banda. Um dia eu ainda abro a gaiola para libertar o pássaro com olhos de asfalto que chora lágrimas de piche. 



Los Hermanos - 4

Conheci Los Hermanos por muitos anos e detestei. E não lembro como nem porquê, parei pra ouvir o 4, e me apaixonei. Para mim o álbum lembra a cor branca. Como se fosse uma cortina, meio translúcida, e eu tentasse enxergar o que tem do outro lado. Me faz sentir saudade, nunca descobri exatamente de quê ou de quem, é um álbum que eu ouço pouco pois essa saudade em especial dói. As vezes ponho o meu sapato novo e vou passear. Sozinho.



Sepultura - Roots

Foi um dos primeiros trabalhos de "Róque Paulera" que ouvi. Todo o trabalho percussivo, música de macumba, música de índio misturado com toda aquela raiva...algumas pessoas dançam com música pop, eu danço ouvindo Roots Bloody Roots. Dança de maluco de sanatório se debatendo dentro de uma jaula. Por culpa desses caras eu decidi deixar o cabelo crescer. Um dos dias mais legais da minha adolescência foi quando conheci pessoalmente o Andreas Kisser, o cara foi super gente fina e autografou meus vinis e cds da banda, legal o cara sorrindo pra mim sabendo que um moleque mirrado com o cabelo crescendo era inspirado por ele. Na verdade devem existir milhões de moleques na mesma situação, haha.


Nirvana - In Utero

Se fosse para colocar em ordem de importância, talvez esse fosse o número um. Inicio da adolescência, e eu nunca tinha sentido descargas de emoções tão fortes até então. Aqueles gritos desesperados pedindo socorro eram tão familiares desde primeira audição, parecia até que era eu quem gritava nas caixas de som. Por uns dois ou 3 anos nessa época eu acendia uma vela para a alma do suicida todo 5 de abril. E ah. Foi essa banda que me fez querer aprender a tocar guitarra e começar a escrever.



Radiohead - Ok Computer

Quando o desespero e o cinza tomaram conta de mim de uma vez. Vai ver foi a época mais difícil da minha vida, entre remédios para dormir, remédios para acordar e remédios para segurar a onda, esse cd tocava e me fazia sentir a mesma coisa que sinto até hoje quando ouço. Um descontentamento sem tamanho com o mundo, sobretudo comigo mesmo, uma certeza de que os problemas não tem solução, só curas passageiras para doses ainda maiores de dor. Hoje em dia eu penso completamente diferente do que pensava com 16, e essas músicas as vezes fazem me sentir com 16 de novo, seja pelo lado positivo ou pelo lado negativo. 


Cícero - Canções de Apartamento

Não sei onde ouvi pela primeira vez. Alguém muito especial sempre teima em dizer que me apresentou o Cícero e bliblibli, mas de qualquer forma prefiro não saber de onde vem as coisas especiais como essa pessoa. Mesmo as músicas mais felizes desse album são tristes. Foi trilha sonora da minha descoberta como ser que sente algo por alguém, que se decepciona e que decepciona também. Foi trilha sonora de beijos, de abraços, das poucas vezes onde eu já tive coragem de abrir meu coração. Desde então para mim essas músicas são como um fim de namoro. As vezes libertador, as vezes, de quebrar o coração.



Caetano Veloso - Transa

Essa mesma pessoa especial que diz ter me apresentado Cícero me apresentou esse álbum. Até então nunca tinha dado muita atenção para música popular brasileira e era cheio de preconceitos à respeito, mas resolvi dar uma chance. Ouvi pela primeira vez e achei uma merda. Ouvi de novo e achei mediano. Na terceira audição, me apaixonei. Desde então fiquei fascinado com a música e os artistas do nosso país, e quase todos os dias procuro conhecer algo novo, mesmo que tenha sido gravado nos anos 70. Obrigado, Gi, por me apresentar o Transa. 


Maldita - Paraíso Perdido

Banda obscura do Rio de Janeiro, cresci junto com a banda. Odisséias bêbadas inimaginaveis por toda a cidade, sendo menor de idade e tentando entrar nos shows, que na época eram tão pesados que só maior de idade podia assistir. Carne crua, sangue falso, arame farpado, auto-flagelação com cacos de vidro e transe. É isso que se via nos anos de ouro da Maldita. Mesma época em que eu comecei a me interessar por produção músical e querer montar um estúdio, ainda hoje, 8 anos depois de o lançamento do album, a cada audição eu ouço um som novo escondido. A cor desse álbum é vermelho. "Eu prefiro ficar dentro do buraco, porque no buraco ao menos eu me sinto assim."


Slayer - God Hates Us All

Talvez esse seja o álbum que tenha feito nascer peitinhos em Madame Morte quando ela ainda era uma garotinha. Joga um cd desse na mão de um muleque de 13 anos e assista ele virar um bicho. Tanto ódio de uma vez só, nunca foi tão fácil descarregar toda a raiva que eu sentia de mim e do mundo, da hipocrisia que é qualquer tipo de religião, esse álbum me fazia mais arrogante que o normal, fazia eu sentir tanta força, como se pudesse deitar meio mundo na base da porrada e ainda ter folego pra correr uma maratona. Foi esse álbum que me fez virar um metaleiro sujo, haha.



Cartola - 1976

Não tem uma música desse cd que não me traga alguma lembrança. Pra mim esse cd é sinestesia, saudade, sorriso, choro. A voz meio cansada de um velho que toca a alma com frases tão simples e subjetivas dependendo de onde se olha, a vontade de dançar em uma música, a vontade de vencer 800 em outra, a mesa de café da manhã e ela no meu colo sorrindo pra mim, a rua vazia e eu precisando me encontrar, o moinho moendo meu coração, o passado, o presente, o futuro. Tá tudo nessa bolacha.



segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Anjos com os pulsos cortados voando no céu do sábado, chovendo em botafogo, tudo alagado, e quem não tem casa vai morrer afogado. Um trago, um gole, um choro, tá tudo doendo, tá tudo errado, não para, não anda, aqui comigo, sou eu. O buraco no vidro é o buraco no meu peito, uma pá para um enterro, um grito e uma garganta, não para, não termina. Dramin pra mim, choro, vômito, a ferida que não para de escorrer, olha só que merda tá esse lugar. Tá tudo tão feio, tudo tão ruim. O vermelho tá ficando cinza. E o cinza tá ficando preto.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Teoria das Cordas na prática

Não chegue muito perto.
Não faça laços.
Não deixe que os laços se tornem nós.
Cuidado pra não se enforcar.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Malandro Mané

Não vou abrir as contas na mesa
Hoje eu não quero trabalhar 
Não vou atender o telefone
Vou sair sem hora pra voltar

Com meu coração de pedra, papel e tesoura
Estupidamente gelado
Meu cigarro amassado
E saudade de você

Ando sem destino por aí
Uma dose em cada bar
Em algum vou encontrar
Alguém raso como eu

Que mude a minha vida
Que me faça feliz
Que leve a dor embora
Que honre o que diz

Malandro mané
Engasguei no meu migué
Ando no fio da navalha
Quase perdendo a batalha

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Fim de Estoque


Cabou o milho, cabou a pipoca. Hoje a noite vai ser longa...




segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Quase

São Cristóvão, 4h da manhã, e já não se sabe mais se é sábado ou domingo. A garganta queimada, a lata cheia de idéia errada e a carcaça meio cansada, pedindo um chão pra deitar. O ônibus que não passa nunca e eu quase dormindo em pé, eis que chega um doidão.

- Koé, bom.
- Koé.
- Me arruma um cigarro desse ae.
- Pô, parceiro, te arrumo até 3! Peraí.

E conto no maço que só tem mais 4, e estou dando 3 pro doidão já me arrependendo, mas entrego mesmo assim, pois promessa é dívida.

- Tem esqueiro ae, bróder?
- Tem sim, tá tranquilo. Pô, te mandar o papo pa tu de que eu bem ia te assaltar, mas tu é maneiro pa caralho, humildão.
- Ih, mané, tamo junto então.
- Pô, tô com uma pontinha aqui, tá afim de torrar?
- Que isso, já tou indo pra casa.
- Então vai lá, irmão, fé em deus!
- Fé em deus, amigo.

E o doideira vai andando meio torto pra qualquer lugar, com um Marlboro na boca e dois na mão. Ainda levou quase meia hora pro ônibus passar, e eu fiquei ali rindo sozinho, pensando que se tivesse aceitado o convite de torrar um com o doidão a espera ia ser mais divertida. Dessa vez foi quase.

domingo, 20 de outubro de 2013

Bebendo Cigarro/Fumando whisky

Engole no meu beijo
A lábia dos meus lábios
Você pode ser rápida
Mas eu sou mais hábil
Me aperta que eu te aperto
Para esquecer o tédio
É longe, mas tão perto
Veneno é remédio

Mata quem está te matando
Aproveita que está acabando

Bebendo cigarro e fumando whisky
Troco as pernas me sentindo mal
Tudo acontece antes que eu pisque
Esse vazio se tornou tão normal

Molho a garganta para engolir um nó
Pois o caminho de volta é longo e só

Feito um cavalo manco
Eu procuro por prazer
Tentando ser tão franco
Quanto não consigo ser
Eu te encontro e te agarro
Você é só substituta
Eu acendo outro cigarro
Eu sou um filho da puta

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A voz que grita

Mais um dia fazendo coisas que eu não quero fazer onde eu não quero estar. O piloto automático me trouxe aqui, em algum lugar entre sono e vigília, com a camisa amarrotada abotoada até o pescoço e o tênis desamarrado. Fome, ódio, atraso. O relógio contra mim e eu contra o mundo.
Enquanto o metrô não chega eu cogito me jogar nos trilhos esperando as rodas de ferro esmagarem minha caveira. Todo dia o mesmo impulso, de as pernas quase tomarem vida própria e me fazerem pular. 

Ao mesmo tempo que desejo, penso se minha mãe iria chorar e na grana que faria ela gastar com enterro, penso no tanto de gente que chegaria atrasada no trabalho por minha causa, penso no cara que teria que limpar minha sujeira. Penso no dia em que não conseguirei controlar esse impulso e caia para ser eletrocutado, atropelado e dilacerado. Três mortes em uma só, para garantir que o vaso ruim se quebre de uma vez por todas.
Na minha cabeça grita uma voz dizendo que eu posso morrer do jeito que quiser. Talvez o único poder que a gente tenha sobre a própria vida seja a escolha de como acabar com ela. O cinza mais cinza do que todos os dias, e eu só percebo que o metrô já chegou quando esbarram em mim ao entrar na composição, todo mundo com pressa com assuntos para resolver e contas para pagar, deixando para amanhã tudo que poderiam fazer hoje.
Minhas pernas não respondem, e antes que eu consiga pensar em me mexer as portas se fecham e o metrô vai embora. O buraco entre os trilhos e a plataforma fica aberto mais uma vez. Enquanto eu olho para o abismo, o abismo olha para mim. "É agora, eu vou pular", eu penso, e acendo um cigarro. 
Uma velha gorda briga comigo dizendo que vai chamar o guarda, e eu volto para o planeta Terra, jogando o cigarro aceso nos trilhos sem saber onde minha cabeça foi parar, e logo chega a próxima composição. Oito e trinta e dois. "Hoje é dia do chefe comer meu cu com areia", penso eu, de volta à realidade.


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O velho e o moço

"Tanto lugar na porra do vagão e essa merda vem sentar bem ao meu lado", foi o primeiro pensamento a passar pela minha cabeça. Se arrastando como um verme ele vem para o banco ao lado do meu e apesar de magro e murcho, como se pesasse meia tonelada, se joga.
Tarde da noite, o que um velho que mal consegue andar faz pelo centro da cidade? Deve estar perdido, ou muito sem rumo, penso eu. Como se fizesse hora extra na vida, ele parece cansado, doente, um zumbi de pele amarela e flácida, cheio de pelos na orelha e veias verdes na mão magra.
Respirando pela boca com um mal hálito nojento de quem não escova os dentes há semanas, ele fica ali como se fosse um móvel no canto da sala. Em vez de mudar de lugar eu só fico praguejando mentalmente e desejando que chegue logo na estação Botafogo. Na estação Cinelândia ele quebra o silêncio.

- Vocé me avisa quando chegar em Botafogo? 
- A moça já avisa no alto falante, mas pode deixar que eu também aviso.
- Brigado, meu filho.

"Não sou teu filho, porra", é a resposta que eu prendo na garganta e continuo calado. E tudo que eu queria era continuar calado, mas o velho queria conversar.

- Como é teu nome, meu filho?
- Lucas. (NÃO SOU TEU FILHO, PORRA).
- Nome bonito, nome de anjo. Eu tenho uma neta da tua idade, o nome dela é Marina.
- Legal (FODA-SE).
- Legal não, porque ela não fala comigo.

E enquanto fala, parece que faz força para a voz ter som, uma voz cansada, tremida, e o hálito podre voando na minha cara. O velho tem um cheiro azedo de quem parece não tomar banho há dias, e de quem não troca de roupa há semanas. 
Glória, Catete, Largo do Machado, o caminho que normalmente se cruza em dez minutos parece levar uma eternidade, e ele ali do meu lado, tremendo, morrendo um pouco mais a cada respiração. De uma hora para outra uma energia cinza toma conta de mim e me entristece a ponto de os olhos marejarem.

- Chegou em Botafogo, senhor.
- É, eu ouvi no alto falante.

E saindo do metrô juntos, o acompanho até a esquina do quarteirão com um nó na garganta. Por algum motivo eu me arrastei na velocidade do velho e esperei o sinal ficar vermelho vendo-o atravessar desejando que alguém o atropelasse para ele enfim descansar.
Então eu chorei umas lágrimas sem saber o motivo. Na verdade eu sabia muito bem o porque e não quis admitir. Aquele velho sou eu. Um dia eu serei aquele velho, quem sabe pior, quem sabe mais fedorento, mais sozinho, com toda certeza. O futuro é flácido e caminha até mim com passo débil,  tremendo as mãos sem coordenação. A gente morre vivendo. A gente morre sozinho. 



terça-feira, 8 de outubro de 2013

Prato do dia


Café da manhã, almoço, lanche, janta.

domingo, 6 de outubro de 2013

Nossa Cama

Nossa cama tem o dengo de 10 crianças mimadas
Nossa cama tem a preguiça de mil baianos
Nossa cama descansa

Nossa cama tem a fome de metade da África
Nossa cama tem a urgência de um CTI
Nossa cama transborda

Nossa cama tem chuva para um ano inteiro
Nossa cama tem sol para uma vida
Nossa cama queima

Nossa cama tem você
Nossa cama tem eu
Nossa cama tem o amor de dois

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Vermelho sangue

Eu olho com um sorriso sua arcada dentária marcada em mim. Como se fosse loba, me comeu e comeu meu coração. Que é seu e só seu. O cheiro das velas e dos cigarros se misturando com o nosso, tudo se tornando uma coisa só. As pétalas no chão se misturando com as nossas roupas jogadas, nossa bagunça tão urgente que faz o quarto se tornar um caos. Caos mais lindo que os olhos podem presenciar, caos que fica maior e mais intenso a cada encontro. Isso não é coisa desse mundo, você, eu, nós dois, um só. 

Seus cabelos pelo nosso rosto, escondendo o nosso beijo do mundo inteiro, porque é só nosso, porque a gente se pertence, desse jeito estranho que vai além da matéria, jeito egoísta, que chega a doer na carne e pesar os pulmões. Sinestesia. Eu farejando o cheiro do teu sexo me torno tão lobo quanto você. Chega a ser violento de tão intenso, a gente literalmente se come. E se morde, se arranha, se engole, se ama...

Minha rainha, minha puta, minha donzela, meu amor. A carne na minha boca e você se tremendo inteira, eu quero você transbordando na minha cara todos os dias pro resto da minha vida, quero sua mão na minha e sua cabeça descansando no meu peito, no nosso abraço que tem o encaixe perfeito, no nosso mundo particular onde o mundo real desaparece e só existe êxtase.

Enquanto você tem medo de se entregar eu já estou entregue e vulnerável, e só me encontro me perdendo em você, meio sem rumo, meio sem escolha. O tempo que normalmente rasteja como um verme, voa como um boing 737 fazendo a ponte aérea quando estamos juntos. E a inevitável hora da partida, parece que ainda vai nos fazer chorar por algum tempo. O que sobra é tanta angústia, tanto cinza...as vezes fico me perguntando se você vai me esperar, fazendo o bem me quer, mal me quer sem flor nenhuma, comendo os chocolates de coração que você me deu...

"Esse amor é cósmico." E eu fico aqui sozinho esperando que os planetas se alinhem de novo para que estejamos ao alcance do abraço e o nosso mundo entre em órbita mais uma vez. É sujo porém belo, e dentro de tanto egoísmo, eu não tenho nenhum remorso de querer você inteira só pra mim, da mesma forma que não tens. Ninguém nunca vai te amar como eu te amo. E acho que do jeito que você me ama, ninguém nunca vai me amar. Nosso amor é vermelho. Vermelho sangue.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Linha 157

De longe, a vi, e por algum motivo bobo, quis ela ao meu lado. "Vem pra cá, japonesa, senta co pai", pensei eu. Então ela dá sinal para o ônibus e em algum ponto da extensão da Rio Branco, ela sobe no veículo. Com tanto lugar vago, ela senta ao meu lado, cheirosa, linda, baixinha. E eu já começo a achar estranho demais, como se ela lesse meus pensamentos, e fico constrangido olhando pras mãos. 

Ela olha para mim de rabo de olho, e quando eu olho para ela de rabo de olho, ela vira o rosto. Uma, duas, três vezes, chega até a ficar divertido. E eu, que sou o pior do mundo para ler sinais, fico ainda mais constrangido, sentindo o cheiro do perfume dela e me segurando para não agarrá-la. Tarde da noite, e o ônibus vai à mil por hora, eu só precisava pensar em algo pra dizer antes que chegasse no meu ponto, e já estavamos chegando na São Clemente. 

Infelizmente, quando  tomo coragem e solto a primeira besteira que sai pela boca já é tarde demais.

- Moça, licença.
- Oi! - Diz ela meio sem graça.
- Você por acaso vai descer no Largo dos Leões?
- Por quê?
- Porque mulher bonita sempre desce no Largo dos Leões.

Ela ri sem graça e fica vermelha, e com os olhinhos puxados brilhando, responde.

- Sim, eu vou descer no Largo dos Leões.  
- Tá vendo só!
- Chutou bonito, hein!
- Que nada, eu tenho essa teoria há anos, haha. Como cê chama?
- Gabriela, e você?
- Lucas, prazer.

Dois beijinhos no rosto, pele tão macia e cheirosa, que eu fico até com vergonha de arranhá-la com minha barba por fazer. Sem que se perceba, já estamos no Largo dos Leões, e Gabriela se despede, se levanta e vai embora antes que eu tenha tempo e coragem pra pedir seu telefone. Ela desce do ônibus e vai andando sem olhar pra trás, e eu fico lá com cara de bocó reparando a bunda da japonesa mais gostosinha que já vi e deixei ir embora...

Se os deuses e os demônios tiverem alguma simpatia por mim, favor me fazerem esbarrar com a Gabriela mais uma vez. Amém.

sábado, 21 de setembro de 2013

Nvblado - Angústia





"O que eu mais faço da minha vida praticamente todos os dias é construir castelos feitos de nuvens dentro de mim. São lindos, são plenos. Porém são frágeis. Frágeis como o que representam. Eu já cansei de olhar pra trás e não ver mais nada. Nada. E hoje eu me arrasto numa caminhada lenta e incerta."


É.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Meio de Transporte

No fio da navalha ou em cima do muro, no calor da batalha em um quarto escuro. Do outro lado da muralha ou no fundo do poço. Perdido entre o rabisco e o esboço. Já tripulou navio, voou de avião, caiu de bicicleta e andou de caminhão. Correu com as próprias pernas e tropeçou no chão, já andou de muletas e até em camburão. Tanto caminho de tanto jeito, e ainda assim sente que não chegou à lugar algum. Seu meio de transporte predileto ainda é a corda bamba.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Segunda-Feira

Dorme só um pouco e já está de pé
Sai de casa cedo e sem tomar café
Ônibus lotado, engarrafamento
Um dia nublado, descontentamento

Corre contra o tempo sem tempo para si
Conta pra pagar, vontade de fugir
Todo mundo junto se sentindo só
No peito um aperto, na garganta um nó

Tem que bater cartão
Pegar elevador,
Bom dia pro patrão,
Um bom trabalhador




O nó da garganta
O nó da gravata
Vão te enforcar.

domingo, 8 de setembro de 2013

Ninfo

Dentre todas as doses que cabem dentro da idéia e todas as luzes epiléticas piscando, nunca que ele esperaria encontrar um diabo tão bonzinho naquele inferno. Música alta (e ruim), festa estranha com gente esquisita, e no auge das pernas trocadas ele tropeça nela, entediada, sóbria, e rindo da cara dele, com um sorriso meio safado e de garotinha. 


- Desculpa, moça.

- Vem cá.
- Onde?
- Vem cá, porra!


Enquanto o leva pela mão andando na frente e dançando, seu coração de pão doce se derrete, até chegar em um banco na área de fumantes.



- Cê fuma?

- Não.
- Então o que?
- Então senta aí, que cê não tá legal!
- Ih, te falar que tá é mó legal!
- An?


Muito mais pra lá do que pra cá, ele procura o maço de cigarros, faz a cara de galã mais meia boca do mundo, acende um Marlboro e com a voz sexy mais não sexy que poderia ser, fala:



- Eu fumo.

- Azar o seu!


E num puxão de Capitão Gancho mais rápido que a velocidade da luz, um beijo lento e cheio de uma sensação diferente que o coração de pão doce não está acostumado a sentir.



- Eca, beijo de cigarro!

- Eca, beijo de jacaré!
- Jacaré?
- 30 mordidas!
- Foi ruim?
- Foi ótimo.


Sorriso tão inocente, uns olhão verde cheio de vontade, e o resto da noite é história. Acorda em Laranjeiras, tendo que sair de fininho correndo o risco de acordar gente que não se tem a menor idéia de quem é, e vai sozinho tomar um café na padaria rindo da própria cara, assim como ela fez. Sem entender as coisas e sem querer entender, ele conheceu uma pessoa de verdade com uma identidade falsa. Um cigarro de bom dia, e na cabeça, um pensamento: "Essa porra é crime!"  



Um dia o coração de pão doce termina por aí cheio de formigas.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Fases

A vida é cheia de fases. Uma fase pior que a outra...

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Leões

Eu vivo matando um leão por dia. De tédio...

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Pretinha

Ela é de Touro
Com ascendente em peixes
Ela é de ouro
Peço aos céus que não me deixe

Morena
Magrela
Pequena
Tão bela

Eu adoro sua voz
Nossos laços já são nós
Me agarra forte
E não solta nunca mais

Você fez eu me encontrar
Você fez eu me perder
Me encontro perdido
Sonhando com você

Também sou um aprendiz
Me ensina a amar
Eu te espero o quanto
Tiver que esperar
Por favor meu bem,
Espera a mim também

Eu carrego seu coração
Dentro do meu peito
Eu tropeço pelo salão
Bobo e sem jeito
Mas dança comigo
Vem me alegrar
Uma hora eu consigo
Te acompanhar

Morena
Pretinha
Pequena
Tão minha

Eu sou todo seu

segunda-feira, 15 de julho de 2013

De acordo com estudos científicos...

Cada cigarro que você fuma diminui sua vida em duas horas.
Cada garrafa de cerveja diminui sua vida em quarenta minutos.



E cada dia de trabalho diminui sua vida em pelo menos oito horas...

domingo, 14 de julho de 2013

Sobre o sorriso mais bonito do planeta Terra.

Pernas tremendo e mãos suando. Depois de tanto tempo de espera, os 10 minutos que faltavam pareceram uma eternidade. Até que você chega e o mundo inteiro some no beijo de cinema que quase pareceu um curta suicida.

O céu azul como não ficava a dias, como se tivesse se guardando por semanas só para o dia em que você viesse nos leva por aí. E a gente chega rápido, no lugar que por tempo determinado se tornaria um mundo a parte dentro do sistema solar, o nosso mundo. "O nosso ensaio pra quando a gente casar", disse você.

Tanta saudade, que não se sabe por onde começar, tanta vontade, que dá até pra sentir o sangue pulsando dentro das veias. O toque, o gosto, o cheiro, sinestesia e simbiose, as duas metades da laranja se transformam em uma coisa só, e então, o repouso que renova tudo, desde o âmago até a forma de ver a vida.

E com as luzes da cidade brilhando mais que o normal, a gente sai por aí. A areia da praia traz a melhor lembrança de anos atrás, e mais uma vez, um ninho de amor, onde dois pássaros sem asas se perdem sempre que se encontram.

Entre um gole de vinho e outro, um beijo. As horas voando, e antes que se perceba já é mais de meia noite. Tanta gente ébria, loucura e caça, as luzes da lapa brilham como se eu tivesse 16 de novo. Você me traz vida, você me faz bem. E dessa vez eu não tenho o menor pudor em esconder que fico de 4 por ti.

No final da madrugada, antes de dormir, uma sensação muito doida, de que o meu lugar é ao seu lado. Com o peito cheio e com você nos meus braços não há mais nada que eu possa querer. E se eu ronquei, perdão, talvez foi porque tivesse em um sono profundo e cheio de vida sonhando com você.

Tal qual as empadas mais gostosas do planeta terra, eu vejo o sorriso mais bonito que já vi, assim, tão pertinho, ao alcance. Um beijo salgado, e por um segundo o pensamento de que nossas almas foram forjadas na praia. Começando o dia às 13h, uma dose de você, que inebria e dá ainda mais sede. O chão cheio de roupas espalhadas, areia por todos os lados, e na bagunça mais bonita do décimo andar, eu me sinto em casa.

Tanto verde, os passarinhos cantando, vento fresco, e nem sei dizer direito o quão feliz eu estava de ir onde eu esperava a tanto tempo pra ir e só não ia por falta da sua companhia. De alguma forma, pra mim parece que estamos juntos e grudados há anos, tamanha a naturalidade do fluxo das coisas. Um pouco mais de felicidade, e a vida parece linda demais pra ser vida. Como pode uma magrela tão pequena mudar o mundo? Não sei. Mas vivi. 

Antes de ir embora, a bailarina me dá um beijo na ponta dos pés. E passeios de ônibus pela cidade engarrafada ficam divertidos e leves quando a gente conversa sobre tudo e sobre nada, quando você deita a cabeça no meu ombro. E na rua, quando pega minha mão, faz eu me sentir o bobão mais feliz que eu conheço.

Os banhos que lavaram minha alma foi você quem deu. Enquanto você se penteia, eu nem imagino que a melhor noite de todas estava prestes a começar. Depois da hóstia, o desjejum. E a areia de Copacabana, como se fosse o único lugar onde tanto amor pudesse abrir as asas, nos acolhe. Você canta...e como sereia, me hipnotiza. E como se eu ficasse tão cheio de felicidade que não coubesse dentro de mim, transbordo pelos olhos. Olhos, que como se fossem câmera, tiram quantas fotos de você e do mundo eu consigo, para guardar na memória e no coração.

A sede infinita nos obriga a comprar a dose de boa noite...e que noite. Something Special. A luz das velas, o cheiro do incenso, o vinho na boca, o nosso reflexo na janela, o sexo, VOCÊ. Absolutamente cada pedacinho, cada segundo, tudo perfeito. E como se fossemos duas peças de um quebra-cabeça, encaixamos no abraço que eu não consigo descrever com palavras. A melhor noite da minha vida foi ao seu lado. Desde então, eu já perdi a conta de quantas vezes repeti tudo na minha cabeça, como um filme. Em algumas tentativas eu quase consegui sentir seu cheiro. Enquanto o céu começava a ficar azul, o quarto tinha o cheiro do nosso amor e eu tinha me tornado mais você que eu mesmo. A sensação de estar completo nunca foi tão grande e forte. Uma noite que poderia durar uma eternidade. E como se tanto amor me derrubasse, eu fui deitar sem dizer que te amo.

Acordo assustado, com medo do relógio. Um choque de realidade me eletrocuta, e me faz chorar de dor, dor essa que não rasga a carne, mas fere o âmago. Enquanto minha alma se contorce, voce dorme ao lado, se o mundo acabasse, não faria você acordar. E ainda assim é terno e suave, você é linda até dormindo. Ao me aproximar para um beijo, percebo que nossos perfumes se misturaram, tanto quanto nós dois. 

Ao te acordar, pressa e caos ao arrumar nossa bagunça. E a cada vez que te olhava sabendo que só tinhamos mais algumas horas, era como um tropeço, onde eu transbordava um pouco mais o amor, que mesmo com você ao lado já começava a se transformar em saudade. Enquanto você penteava o cabelo sem pressa alguma meus olhos tiravam as últimas fotos do seu rosto sorrindo pra mim com um sorriso de "eu preciso ir".

No caminho do final, eu mal aguentava olhar pra você, com o rosto molhado, pensando o que seria da minha vida sem você de novo. Tanto descontrole, que eu não sabia se saia correndo ou se te impedia de ir embora. Fez eu conhecer um lado meu que eu ainda não tinha visto, o lado que ama. E por mais que diga que ainda é aprendiz, foi você quem me ensinou a amar. E agora, depois do módulo 1, eu só não sei pra onde ir sem você.

Um beijo de despedida, e eu vou embora sem olhar para trás. Como se fosse por força da gravidade, tudo que flutuava, cai no chão e se quebra. Você foi embora com meu coração na mochila. E eu fiquei com o seu aqui. Vou decorar as paredes do buraco, escrever nossos nomes, e guardar ele ali, com carinho. E até que os planetas se alinhem mais uma vez para a laranja voltar a ser uma só, eu fico aqui contando as horas e sonhando com você. Hoje faz uma semana que reencontrei o amor da minha vida.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Barulho

Pros bonitos e bonitas que não tiverem mais o que fazer e quiserem ouvir minha voz de taquara rachada e minha guitarra escrota fazendo seus ouvidos sangrarem.

https://soundcloud.com/madammemorte/heartbroken-heartbreaker

Beijos.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Narciso Nefasto

Eu bebo, eu fumo, eu minto
Eu transo sem camisinha
Eu vendi minha alma
Eu dei tudo que tinha

Eu sou errado por natureza
Com a certeza da incerteza
Eu sei que tudo isso um dia vai mudar
Eu sou metade de mim mesmo
Solto na cidade a esmo
Quanto mais respiro mais pareço sufocar

Sou quebrado por natureza
Natureza morta
Vou andando com frieza
Nessa estrada torta 

Suporto mais do que aguento
Eu desisto sempre que tento
Só me lembro daquilo que quero esquecer
Eu faço um brinde pra cada erro
Preparo meu próprio enterro
Menos de mim e bem mais de você

Eu tento, eu luto, eu falho
Eu não gosto de atalhos
E só falo de mim mesmo
Pois não há ninguém aqui

666

Seiscentos e sessenta e seis motivos para não te telefonar.






E ainda assim os dedos estão coçando. Vai entender...

quinta-feira, 21 de março de 2013

"Agora ela se foi
como todas se vão.

Desta vez o negócio acabou comigo.

É um longo caminho de volta,
mas de volta pra onde?

O cara que vai na minha frente acaba de
cair.

Passo por cima dele.

Será que ela também o acertou?"


Buk

sexta-feira, 15 de março de 2013

Sobre uma noite que eu prefiro esquecer

De um caderno sujo; novembro/2012

Ela não quer me ver nem pintado de ouro. Pelo menos nisso está tudo certo, pois eu não valho um tostão. Na segunda taça de vinho (e eu detesto vinho) eu começo a divagar sobre todas as coisas que eu nunca vou saber e todas as coisas que você nunca vai saber também. E tentando tirar um coelho da cartola, eu sinto como se a magia tivesse acabado. Mas eu nunca fui bom nisso, e nunca vou conseguir aprender. 
E eu me lembro de semana passada, quando em algum lugar disseram que eu vou morrer sozinho e arrependido. Parece que tinham razão, eu estou morrendo. De amor. Estranho isso, e como se eu fosse metade de mim mesmo, eu sento no chão, pra não cair.
Na terceira taça, eu recuso o vidro e começo a beber do gargalo da garrafa de plastico, afinal, vinho barato, não pede cerimonia, assim como eu, que acendo mais um cigarro desejando tocar fogo na Cantina da Serra.
Dentre todas as coisas do mundo que eu poderia desejar, você é a única, desde que eu te conheci. Estranho como a gente muda quando ama alguém. Tomara que sejam só processos químicos e terminações nervosas da minha cabeça com defeito. 
E quando a garrafa já tem menos de metade eu já não penso mais com tanta clareza, mas ainda assim penso em você, e em como eu só não falhei em falhar. Como se você me desse o presente mais bonito que eu já ganhei e eu jogasse pela janela.
Dentre tudo que valeu a pena ou dos arrependimentos, só sobra cansaço e essa falta de você, que se tornou falta de mim mesmo. Sinto que estamos perto do fim. E ainda não sei dizer se isso é um alívio ou um tormento. 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Bola da Vez

O carnaval termina e enfim o ano começa. E com o carnaval, o verão vai embora. Entre ressaca, preguiça e contas pra pagar, sobram possíveis doenças sexualmente transmissíveis, pedidos para segunda via de documentos perdidos e os hits de verão.
Patrocinados por grandes gravadoras, artistas pré-fabricados de um só sucesso nos são empurrados goela abaixo. A cada ano um novo zé ninguém é escolhido pra ser a bola da vez. Música grudenta, porca e sem conteúdo, quanto mais bestificante melhor. Algo que te torna tão sem opinião ou vontade própria, ao ponto em que whisky ou água de coco pra você tanto faz.
E ao longo do ano o pseudo artista faz centenas de shows e as gravadoras e produtoras de eventos enchem o rabo de dinheiro às suas custas. O cara aparece no Faustão, no Gugu, na Hebe e na puta que o pariu até que de alguma forma alcance você, que por mais que queira, não consegue fugir.
Enquanto gente que não tem nada a dizer tem espaço na mídia, os verdadeiros artistas passam fome e geralmente precisam de um segundo emprego para sustentar sua arte (ou escrevem em blógues toscos como esse, haha). Apesar de a internet ter mudado a forma e a facilidade com que a informação ou arte são compartilhados e acessados, as grandes companias, sejam de música ou de entretenimento sempre vão querer que você seja burro e compre seus produtos.
Ninguém mais lembra do Rebolation. Ninguém canta mais a música do delícia, assim você me mata. E ano que vem provavelmente as músicas idiotas que são entoadas hoje a plenos pulmões pela multidão também caiam no esquecimento, são todos descartáveis. 

Nesse mundo onde nada dura muito e onde amor hype rapidamente se transforma em término de namoro, seja menos idiota. Desde o lugar onde você come ou faz compras até o que você lê e escuta, não seja descartável também. Seja menos eles, e mais você mesmo. Ou então, continue dançando o Gangnam Style até que um novo artista sem arte seja empurrado a força nos seus ouvidos e no seu bolso.