terça-feira, 24 de novembro de 2015

Good Trip / Bad Trip

Anjo caído com gosto de seiva na boca, barba molhada, na cena do crime, na cara do gol. Testemunha ocular dessa porra queimando. São cinzas ou são sombras, um protesto ou um pretexto? Marginal com o mundo na sola do pé, com a faca na mão cortando o bolo. O pecado é doce, o recado é amargo, a pista tá salgada e eu vivo de fome. Fome de vida, fome da própria fome. Vira-latas e cachorras de raça, cigarros obesos e cachaça, eu tou aceso soltando fumaça, receita pra desgraça. Apetite, sem limite. Alterego de mim mesmo, chega quando bate as dose, eu lírico, eu larica, vem de neurose, psicose, necrose, sirrose, meu peito é um cinzeiro, minha cabeça é uma favela. Saneamento básico não chega até aqui. Sem espada, sem escudo, sem guerra nem paz. O caminho é a viagem, o destino é uma miragem. Peito aberto, furado, quebrado, tenta derrubar. É maior que os arcos da lapa, a muralha da China, a puta que o pariu. Pode subir que hoje tem, pode vir, mas nem vem que não tem. Eu vou indo, nem vou, poesia pornô. Tão sublime que oprime. O mundo é meu. 

terça-feira, 17 de novembro de 2015

lies lies lies

She don't lie, she don't lie, she don't lie. Com quem? 

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Morte e vida na Rua Humaitá

A alma sangra, menstrua
A mente no éter, flutua
O corpo encolhe, recua
Essa noite eu morri na rua

Andando pelo asfalto enquanto chove
Sorrindo meu sorriso Kalashnikov
Inocente até que o contrário se prove
Meu olhar distante é meu revólver

Não há diabo que ature nem santo que perdoe
Quantos pássaros na mão para que um voe?
A rua não tem dono, nem eu tenho também
Quem é de todo mundo, não é de ninguém

Estóico, escroto, estranho, erótico
Lindo, horroroso, suave, neurótico
Bêbado na rua ouvindo Jimi Hendrix
Das cinzas do Marlboro renasce a Fênix

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Moreno Sereno

Enquanto o mundo acaba eu permaneço sereno
Limpando as feridas em meu corpo moreno
Às vezes demônio, às vezes ingênuo
O eterno retorno não me trouxe nada

Morrendo engasgado em fumaça e veneno
Um dia tão grande, hoje, tão pequeno
Fazendo as malas e andando em terreno
Há muito não explorado

Meio acabado, mas ainda assim, pleno
Semblante de vida, quase obsceno
Fazendo as malas, um último aceno
Somente a estrada não tem fim

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Veneno

Todo mundo precisa de alguém. Alguém para lamber suas feridas. Alguém para te abraçar e te trazer segurança. Alguém para que nem que seja por um pouco, faça a dor ir embora e preencher o vazio. Em algum momento, todo mundo encontra alguém, ou acha que encontrou. Por uns momentos, seja semanas, meses ou anos, até que funciona. Mas com o tempo o cérebro e o corpo se tornam tolerantes a qualquer droga que não mate de primeira. A gente morre devagar só por estar vivo. E cedo ou tarde, toda droga cobra com juros aquilo que já te deu onda ou segurou sua onda. 
Em que você pensa quando o vazio toma conta? Como você sai dessa quando você mesmo já se tornou isso? A gente gosta é de veneno. Uma carreira, um trago, uma pílula, uma garrafa, alguém. A gente vive procurando a salvação. Essa porra vicia, sonhar vicia. E vai mais uma dose, manda mais um teco, fuma mais um maço, engole mais um comprimido, tentando fechar esse buraco que nunca fecha, buraco da alma. Os dias são todos iguais, entre uma rebordosa e outra, nós mesmos acabamos virando uma droga, um veneno, tóxicos. Para nós mesmos, para os outros. 
A busca da cura para todo mal é o caminho da perdição. Em todos os níveis, de qualquer jeito. E depois de tanta brisa, a gente muda, o mundo muda, as pessoas mudam, é o efeito do tempo: erosão. E a gente se esconde dentro de qualquer garrafa, qualquer coisa que faça esquecer que somos nós mesmos, que traga algum alívio passageiro. Dizem por ai que tudo em excesso faz mal, mesmo se for bom. E somos tão pequenos que fazemos o que é bom se tornar mal, o bonito ficar feio, o feliz entristecer. O ser humano é tão pequeno que destrói até o amor. Ou será o amor algo com data de validade?
Dia cinza, pulmão preto, rosto pálido. Que coisa no mundo será capaz de preencher o seu vazio? A gente acha que tem a resposta na ponta da língua, mas nunca fica satisfeito com nada, quanto mais tem, mais quer, é o excesso, é a destruição, o lado mais bobo da humanidade, estopim de guerras e ruínas. É preciso transcender para superar. Veneno para transcender. Veneno que é remédio, pra dormir, pra acordar, pra dar onda ou pra segurar a onda, parece que não somos capazes de caminhar com as próprias pernas, por medo ou só por preguiça. 
Madrugada boa pra dar um passeio. Daqueles em que a gente sai de casa sem querer voltar, daqueles em que a gente sente que talvez nossa casa não seja mais nosso lar. Desejando encontrar amor, encontrar a paz, encontrar a si mesmo. Mas só um passeio. Pra tomar um ar, pra ver se o vento leva pra qualquer canto bom, que saco vazio não para em pé. Qualquer lugar é destino. Consciências limpas como banheiro público, leves como bala de canhão. Já que a gente não anda, que o vento nos sopre. Como penas de pombo. Cada um de nós, uma revoada. Para o lugar mais bonito que se puder chegar e purificar cada impureza do âmago. E que não transformemos esse lugar em mais uma droga pra alma. 
















Boa sorte pra todo mundo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Entremeio ou Delírio de lagarta em casulo

O trabalhador sai e ainda nem tem Sol no céu, ônibus lotado, Avenida Brasil. "Todo mundo junto se sentindo só, no peito um aperto, na garganta um nó". Os vagabundos já enjoaram da noite (que horas atrás era só uma criança) e começam a caçar o caminho de casa ou qualquer canto pra cair. A mãe preta varre o terreiro, daqui a pouco o galo vai cantar, bom dia, levanta pra cuspir com a glória de Ogum. Todo mundo indo para algum lugar, cada um com seu destino, cada um, um desatino. 

Entremeio,
Descompasso,
Peito cheio,
Um abraço.

Pra quem quiser um abraço.

Enquanto o mundo gira, eu continuo aqui, enquanto o mundo é mundo, eu sou só isso. Ou nada. Calor carioca, tem gente que é mar. Tem gente que é represa, tem gente que nem gente é. E eu continuo aqui. Vendo as paredes do quarto, enclausurado, me sentindo um cachorro com a boca espumando, tanta vida no meu peito, mas parece que não é para mim.

Faz falta uma ponta, um carinho, uma dose,
Qualquer coisa pra acabar com essa psicose.

De segunda a segunda, cada dia é uma briga, daquelas brigas já tão velhas que nem se sabe mais qual é o motivo, mas se briga mesmo assim. Levantar, deitar, e entre isso, só o dia, mais um dia, uma noite, tanto faz. Entre uma ressaca e outra, entre uma lágrima e outra, bêbado de poder ou de ilusão? Vivendo por amor ou por amor à decepção? Todo poeta é mentiroso, mas quem se diz poeta será poeta mesmo? Quem disse que as suas ou minhas palavras prestam pra qualquer coisa? Todo poeta merece morrer. Um gole de arrogância, que cachaça hoje, não tem. Vez ou outra, todo mundo vomita a verdade. Quando vomita a alma.

Eu sou puro ou não sou?
Tremedeira outra vez,
O problema é comigo,
Ou é com vocês?

Cada um com seus problemas, seus demônios, suas crenças. Já acreditei tanto que não acredito mais. Nem em mim, às vezes. Príncipe do lixo, trono de entulho, coroa de espinhos, minha coroa não vê a hora de eu ir embora, e eu nem vejo também. Eu já perdi o bonde ou a banda já passou? O homem esconde seus delírios ou os delírios se escondem do homem? Tem gente que dá medo, tem gente que tem medo, tem gente que é gente, tem gente que nem é. Nada. 

Daqui a pouco nasce o Sol, e eu continuo aqui. 

Bom dia?

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Monstra

Ela é a mulher dos seus sonhos
E dos seus pesadelos 
Ela tem o saco cheio
E o ego também

Salto 44, busto 46, Compaixão zero
Mais destrutiva que tiro de espingarda
Ela vai comer teu coração com farinha

Farinha
Na venta
Farinha
Do mesmo saco
Cheio

Cuidado com o canto da sereia
Te distrai, te atrai
Te destrói, te trai
Você vai morrer na praia 
Tentando matar sede
Com água salgada

Em suas veias o que corre é vinho
Ela ganha o que quiser com um sorrisinho
Se liga, não existe casalzinho
A gente é feito para morrer sozinho

Fria como bronze, não tem coração
Pose de esfinge, chamando atenção
Olhos de serpente, lingua de navalha
Ela gosta mesmo é de canalha

Calafrio
Calaquente
Calaboca
Cola quente

Pra colar os cacos
Do que sobrar de você

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Ouroboros Bêbado

As pessoas sempre se perguntam qual é o sentido da vida. Mas qual o sentido da morte? Parece que em meio ao ego e suas próprias vontades se esquecem que um dia a vida termina, que tudo que começa, uma hora acaba. E as vezes (quase sempre) os sonhos ficam para trás ou apenas deixam de ser sonhos para se tornar desistência. Como aquela vontade de parar de fumar na segunda-feira, mas continuar fumando. Nós e e as coisas nascemos pra morrer ou morremos só porque já duramos tempo demais? Quem decide a data de validade? Deus e o Diabo sabem a resposta, eu só sei perguntar. A gente trilha caminhos e aprende, conquista, perde, cresce, ri, chora, vive toda uma jornada, para então deixar tudo pra trás. 
Como o vinho que vira vinagre, o celular que deixa de funcionar com muito uso, o amor que vai desbotando até desaparecer. As coisas se renovam por meio da destruição. Desse jeito meio cruel, a gente vai perdendo tudo que conquista e que mais ama, ou as vezes só se desfaz, só deixa de amar. Em um piscar de olhos ou em uma vida inteira. Para no fim das contas, abandonar até o próprio corpo, se entregar aos vermes e se tornar nada. Do pó ao pó. Lei inexorável, malévola. 
Eu fico parado assistindo tudo ruir sem conseguir sequer esboçar reação ou resolver qualquer problema. Será um tempo de destruição ou de construção? De um jeito ou de outro, é doloroso, tem machucado muito. E eu, ainda tão novo, sinto que tenho muito mais anos do que realmente tenho. Na garganta, fica presa essa vontade de gritar, como se fosse um pigarro. No peito, essa angústia constante que não me deixa descansar, essa vontade de sumir e começar tudo do zero, ao mesmo tempo apegado a tudo que eu já tenho, ou nem tenho mais e só acho que tenho. E ainda assim, a certeza e a preguiça de imaginar que mesmo que tudo se renove, cedo ou tarde se tornará velho, cansado, obsoleto. 
Eu só queria poder parar e descansar.
O moribundo jaz deitado suando na cama, olhando para o teto e dando seus últimos suspiros, vendo a vida passar como um filme diante de seus olhos. Quantas vidas a gente vive em uma vida só? Quantas vezes a gente precisa morrer para enfim descansar? O moribundo já fez bem para as pessoas e já fez mal também. O moribundo já amou e já odiou. O moribundo hoje é só um moribundo, esperando pela sua hora como as pessoas que esperam na sala de espera do dentista. O melhor que a gente pode fazer pelo morribundo é dar carinho para ele enquanto ele ainda vive (ou morre). Que depois disso será apenas uma lembrança. Até cair no esquecimento. 
Tudo que envelhece se renova. Mas tudo que se renova, envelhece. O fim é o começo. O fim não tem fim. 

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

(A) Mar

O mar é um grande naufrágio
Se afogou na grandeza de si
Imenso e ainda tão frágil 
Profundo e secreto

Onde a luz do sol não chega
Existe mais vida do que se imagina

A maré sobe e baixa
Sem padrão ou regra de nada
O que no mar se acha
No mar já fez morada

O mar encontra a costa
Quebra mar, quebra, amar
Amar quebra
Onde gente não respira
Amor não há de ter

Netuno de cores frias
Águas geladas e traiçoeiras
Poço de piche na noite
Espelho da lua e do sol

Água que não mata sede
Não serve para nada

Posseidon e Iemanjá 
Não sabem nadar
O mar é um grande naufrágio
Cuidado para não se afogar

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Um grito quebra o silêncio
Um trago preenche o vazio
As paredes estão encolhendo 
Ou será que fiquei maior?
Mais gordo, talvez

Dormi um rei e acordei um plebeu
É macho, é fêmea
Eu acho, efêmera
Mas não.
É tristeza.
Sou eu.

Despetalando os dias
Bem me quer, mal me quer
Nem quero nada
Quero tudo
Ou não.

Fim de festa, fim de feira
Fim de carreira
Quarta feira
Tanto faz
Mas não faz
Nada.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Tango

A mancha de mofo na parede do meu quarto olha pra mim. Já me viu sorrir, chorar, já me viu de preguiça e com pressa, já me viu fazer sacanagem acompanhado, sozinho. Hoje, estou sozinho. Ontem, anteontem, já faz um tempo. Sem sacanagem nem prazer, sem sorriso e sem nem nada pra distrair. Cabeça vazia é oficina do diabo, diz o ditado. E o diabo impera. Em cada pelinho do meu corpo, em cada pinta, no meu pinto. Diabo cinza, pobre diabo. Vagando na vida como um fantasma, um cachorro sem dono procurando farelo em porta de bar. Sobrevivendo a cada dia com alguns arranhões, fraturas expostas e fraturas bem escondidas, mas nunca curadas, de fato. Dizem por aí que a gente faz o próprio destino, e acho que nem tenho feito nada. Então não pode reclamar. Mas também tá foda sair do lugar. Grilhões invisíveis pelos pés, pelas mãos, o próprio corpo já virou prisão. As coisas todas perdendo o sentido como quando eu tiro meus óculos e meus olhos míopes enxergam tudo embaçado, meio sem forma, sem distinção de detalhe nem poesia, só borrões. Que que se faz com tanta solidão? Deveria ser possível transformar as coisas feias e adversidades em coisas bonitas e caminhos, mas em algum ponto eu me perdi. Em algum ponto, eu perdi. Tava dançando tango com a vida. E parece que agora, dancei. 

domingo, 16 de agosto de 2015

Brasil Sil Sil

Segue o brasileiro. Pentacampeão em andar em círculos com os olhos vendados. Cego guiando cego. Lutando da forma errada pelos motivos errados, passando por cima de tudo que vai contra sua própria ideologia, ou você está do lado ou está no caminho.
Minha opinião tá mais que certa, a sua é equivocada e absurda. Vá ler um pouco mais! Minha opção sexual é a única verdadeira e aceitável, a sua é doença mental. Viado tem mais é que apanhar e putinha tem mais é que ser estuprada pra parar de dar mole por aí. Minha religião é boa e pura, a sua é do demônio. Malditos macumbeiros. Meu diploma de faculdade fui eu que conquistei (papai pagou) e meu emprego bom fui eu que consegui com minhas qualificações(e os contatos de papai). Não existe crise, você que é preguiçoso!Quem quer consegue, se você tá na merda é culpa sua e só sua, não se faça de coitado. O país seria muito melhor sem essa corja de mendigos preguiçosos. Ainda vou embora do Brasil! Lá na Disney não tem dessas. 
Cada passo é um passo em falso, andando sobre ovos. Ou seria um rebosteio? Em terra de cego, quem tem olho...ERREI!


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Pedras

Palavras são pedras. Com pedras se constrói castelos. Ou simplesmente se amontoam, pedregulhos, inértes, estáticos inúteis. Há ainda as pedras que se atira. A pedrinha atirada na janela do quarto da amada para chamar sua atenção para uma serenata e a pedra que se atira na água só pra ver quantas vezes ela irá "quicar" entre a água e superficie, sem motivo algum, puramente por curiosidade ou tédio. A pedra que se atira para estilhaçar tetos de vidro como se não fossem nada e as pedras que atira nos condenados até a morte em certas culturas.
"Veio com 4 ou 5 pedras na mão."   
...
E nem construiu merda nenhuma.
Monólitos de diferentes tamanhos, espessuras e densidades pra dar e vender, pra tomar e esconder. Com palavras se constrói e se destrói, ou simplesmente não se faz nada. Valem milhares ou coisa nenhuma, e como pedras, como quase tudo na vida, tem seus pesos e medidas. E parece que em algum ponto da humanidade, se tornaram algo tão banal como respirar. Respirar, que faz viver. Palavras, como entulho. De um prédio demolido, ou de algo em construção. 
O que você quer dizer? Eu não quero dizer nada.
Quantas pedras você tem? Eu tenho meu silêncio. 
Rocha tão grande quanto o everest. 
Pedras são lanças e escudos, principalmente. Carne tão frágil, sempre evitando qualquer tipo de sangramento. Nem tanto assim, se sangrar em outro lugar. Tá doendo? Nem senti...
Ataques periféricos proferidos sem aviso e sem que se perceba nos derrubam ou derrubamos os outros. Nestas terras pantanosas onde se mata para não morrer, escondam seus cadáveres!
Para que não reste pedra sobre pedra 
Eu não digo nada.

domingo, 9 de agosto de 2015

Passados (pra trás)

Era um rei e sua coroa era de bijouteria
Falsos brilhantes que perdem o charme 
Assim que se chega mais perto

Era ensolarado, um dia azul e agradável
Daqueles que prometem muito mas não acontece nada
Outro dia no front

Eram borboletas no estômago
Ou um nó nas tripas?
Devaneio de lagarta em casulo

Tinha tudo pra dar certo
Mas não sai do lugar

Tentando não perder tempo
Perdeu todo o tempo que tinha

Agora já é tarde demais
Pra dizer que é tarde demais

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

(Des)Embalos de Sexta-Feira à Noite

Hoje, nesta sexta feira, sete de agosto de dois mil e quinze eu me senti sozinho como não me sentia faz tempo. De um jeito em que só me dói assim nas noites de natal, uma vez por ano. De um jeito que me murcha as bochechas como se eu não comesse há semanas e me seca a saliva da boca como se eu tivesse engolido um quilo de sal. Com uma gana tão grande de ver o mundo e ver gente, de sorrir e dançar, com uma sede que secaria algumas garrafas e queimaria alguns maços de cigarro. E ao mesmo tempo, a realidade. 
Olhando contato por contato na agenda de telefone, que nem é lá essas coisas, não se encontra nada. Gente que mora longe, gente que tá namorando e sumiu, gente com quem eu nem falo mais e gente que nem fala mais comigo, casos  do passado que terminaram mal e com quem nem se fala mais e sabe-se lá porque diabos todos esses números ainda não foram deletados (talvez pelo simples fato de não querer que minha agenda de contatos seja ainda menor). As opções são poucas, e hoje, só por hoje, eu não quero ficar sozinho, mesmo que a companhia nem seja legal. Hoje eu só queria falar e ouvir, conversar. Mas o silêncio é maior que qualquer música que eu colocar pra tocar, o silêncio é aqui dentro. 
E mandar mensagem pra gente que nem responde ou telefonar pra contato que nem atende, pra outro que não pode sair hoje, pra gente que tem prova amanhã, pra outro que "tá passando muito mal", pra gente que atende e diz que tá com muita saudade e louca pra te ver mas não fala com você faz meses e tá meio ocupada e precisa desligar. Gente que te responde com a maior frieza meio como se sentisse até algum prazer em te rejeitar. Uns créditos e uns minutos jogados fora junto com alguma dignidade, se é que eu tenho ou já tive isso. No fim das contas parece que todo mundo já tem algo programado (mesmo que o programa seja não fazer nada) ou alguma desculpa na ponta da língua pra rejeitar qualquer convite. Meio como se todo mundo tivesse indo pra algum lugar ou já tivesse achado esse lugar, e eu continuo por aqui. Talvez esse seja o meu lugar. 
Me sinto a última pessoa do Rio de Janeiro, aquele que não telefonariam nem em caso de emergência, nem que tivesse pintado de ouro. Nas ruas, todo mundo com suas roupas de sexta feira, saindo de casa, chamando seus taxis e marcando alguma coisa. E eu por aqui, voltando pra esse bloco cinza que quase nem aguento mais, mas também não consigo jogar fora. Olho pras paredes amareladas do meu quarto e me vejo nelas, embolorando. Talvez o mais engraçado disso seja que no fim das contas, lá no fundo eu só quero ficar sozinho mesmo. Nesse abraço sem braços, nesse sussurro sem voz, nesse friozinho quase gostoso, quase mais mãe que minha própria mãe. E como diria mamãe, toda essa vontade de cores, sabores e sons "é só fogo no rabo".
De certa forma, quem fez isso tudo fui eu. Essa distância, essa frieza e essa recusa, tudo obra minha, arquiteto de mãos grandes que um dia já apertaram muitas outras mãos, mãos grandes que já tatearam o mundo no escuro e já mataram e fizeram renascer. E no escuro ainda mais escuro hoje jaz, se é que é possível. Que dor dói menos? Qual vazio é menos vazio?  Não importa muito, eu acho, dá pra preencher com fumaça. Hoje o mais longe que eu vou é ali na esquina comprar cigarro. "É sexta feira, amor".


quinta-feira, 16 de julho de 2015

(Des)Anuvio

Flutuando plena e livre, percorrendo o céu de lugar algum para parte nenhuma, segue a nuvem, sem rumo nem compromisso, sem esperar ou dever nada a ninguém. Soprada pelo vento, banhada pelo sol. Silêncio e solidão na imensidão atmosférica. Lá em cima parece bem melhor que aqui. E quando todo o peso corrompe a pureza do céu azul fazendo cinza, tempestade. Purificante, expulsando tudo que faz mal, literalmente, lavando a alma. Nuvem no céu que é um dragão. Ou um grande algodão doce, ou um bonito animal, ou coisa nenhuma. Nuvem que com o sabor do vento, rapidamente se reinventa e muda de forma, deixando para trás todas as lembranças, se tornando algo novo, que não se repete, autosuficiente. Mais leve que o ar, fazendo sombra em algum lugar aqui embaixo. Com poucos propósitos, cada nuvem sabe de si mesma, em um eterno processo de transformação. Faça chuva. Faça Sol. A nuvem é nublado incompreendido e indesejado, às vezes coletiva, às vezes independente, indefinidamente covarde ou intrépida. Que sempre muda mas continua igual. Que se deixa levar sem medo em meio ao desconhecido. Que se põe no caminho ou faz um caminho novo. Mais ou menos como cada um de nós. Antítese do céu de brigadeiro. Como a escuridão é para a luz. Como eu para você. Como você para si próprio. O tempo é nublado. Boas condições para um bom vôo.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Aleg(o)ria

Sem alegria
Segue o poeta
Sem alegoria
Em linha reta

Em rumo
Comum
Sem rumo
Nenhum

O caminho é a viagem
O sangue é a passagem

Sem ida nem volta
Sem velo ou escolta
Fumando desilusão
Engolindo a seco
O que não se diz

Em busca do gozo
Da vida e do sexo
Nublado e chuvoso
Sem paz e sem nexo

Deitar pra descansar
E nunca mais
Acordar

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Cartinha de Amor Aleatória

Sua voz enche o ar e me envolve como um cobertor, bem quentinho. Mesmo quando briga comigo, mesmo quando quando não diz nada. Teu olhar fala por você. Par de olhões jabuticaba que não me enganam nem quando tentam. Isso te frustra. A mim também. Vai ver um pouquinho de engano e ilusão às vezes faria bem. Vai ver a melhor coisa que a gente poderia fazer no mundo nesse instante fosse se enrolar juntinhos num pano pra assistir um filme açucarado. E dormir antes da metade do filme, haha. 

Todos os altos, os baixos, os terrenos planos e os planos, os sonhos e as desilusões também, sendo trechos dessa viagem como pontos turísticos, alguns onde se passa mais tempo que outos, alguns nem tão bonitos assim. Viagem essa que não tem destino, a gente só vai, mas vai junto. Mesmo sem tar junto. Descobrindo cada curva dessa montanha russa, sempre dividindo o mesmo copo, porque é mais gostoso que beber separado. 

- "Cadê o copo dele?"
- "O copo dele é o meu."


Entre beijinhos de chegada e de despedida, entre pontes aéreas e entre vidas passadas e futuras, a gente vai ao longo dos anos construindo a quatro mãos, tijolinho por tijolinho nosso castelo, que é todo torto mas bem quentinho e confortável. Como a minha asa pra você, como o teu colo pra mim. Vivendo de saudade e de amor, vivendo por ambos, que são gana de vida, de felicidade.  Entre cenas (muitas cenas, rs) e atos a gente escreve nosso romance tragicômico dramático (pra caralho) meio que já sabendo (e desejando) que no último capítulo a gente ainda teja junto de cabelo bem branquinho e talvez até dando beijinho com a boca banguela. No fim das contas as opiniões alheias não tem crédito ou base quando o que é nosso é só nosso e de mais ninguém, só a gente sabe.

- "Ah, Dindi, se tu soubesse..."


No fim de todas as briguinhas a gente sempre relembra que o outro ainda tá presente pra um abraço. Na inconstância de humor das TPMs nunca falta um carinho. Nas choradeiras bêbadas nunca falta uma lambida pra secar as lágrimas, como dois gatinhos, nunca falta um abraço quente e conforto pra alma, nem nos "anos de solidão" mais solitários da vida inteira, rs. Nos cinzas mais negros e espinhosos nunca falta uma palavra amiga ou um esporro (BRAAABA!), quando necessário, pois amigos não são pra falar só aquilo que a gente quer ouvir. Nas maiores brabezas nunca falta uma implicância (e como a gente adora implicar com o outro!) que faça surgir uma gargalhada. Não importa qual o pesar, o apesar, que é esse amor sempre supera e cresce, "apesar de tudo"...


Todos esses anos de segredos e descobertas, a gente já se ensinou e aprendeu tanto juntos...nessa troca de professor e aluno, troca de fluidos corporais e de qualquer outra coisa possível de se compartilhar...nosso primeiro encontro da forma mais improvável possível virou paixão quase que de imediato...paixão por anos reprimida, negada, atropelada, difícil, linda. E hoje, quase uma década depois é essa coisa maior que a gente, maior que a estrada e qualquer coisa que se ponha no caminho. Esse amor desafiador, rebelde, as vezes inconsequente. Todos esses anos compartilhando tanta coisa da alma...vai ver ninguém me conhece tão bem quanto você e ninguém te conhece tão bem quanto eu. 

- "Meu arroto, meu peido, eu comendo feito uma ogrinha...você é o único que já teve acesso a essas coisas."
- "Que privilégio!"


Sim, privilégio, meu bem. Nossa intimidade é a coisa mais gostosa do pacote...essa liberdade de estar a vontade o tempo inteiro, de se aceitar porque se ama, de se admirar, essa lealdade tão doida. Sem contar os charminhos e as provocações, os apelidinhos bobos (e hoje em dia nome de verdade é só pra hora das briga, rs ) e toda a manha e o dengo do mundo...é bom demais poder ser teu amigo, teu amante, companheiro. 


Já faz tanto tempo, pretinha e de alguma forma parece que ainda é só o começo...a menininha e o muleque viraram mulher e homem, quase marido e mulher. 

- "Tá quase casado e me chama de peguete?!?!"
(duas hora de brabeza e bico.)


Enfim, não sei muito bem onde quero chegar com isso nem quando lê...já falei pra caralho e nem falei coisa nenhuma no fim das contas. Acho que só queria mesmo falar de amor. Meu amor, que é teu. O resto, você já sabe todos os dias. O resto é segredo. O resto a gente encara, ou só fica de preguiça e nem levanta da cama.

- "Vamo tomar uma atitude pra vida e levantar no 3!"
- "Um...dois...três!"
(continuamos deitados, rs)


Mil beijinhos,

Preto.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Contra

Sigo contra o vento
Contraventor
Por caminhos que levam
À lugar nenhum.
Passo torto.

Nado contra a maré
Remando a preamar
Por aguas que lavam
Mas não limpam.
Sem um porto.

Corro contra o tempo
Contratempo
Cada respiração
É um sopro de morte.
Reconforto.

Vivo contra a regra
Contraregra
De um cenário vazio
Onde sou figurante.
Aborto.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Corrida dos Ratos

"Imagine uma gaiola, onde o rato corre dentro dela, 
Ele corre até se cansar
E nunca chegará em lugar nenhum, 
São bichinhos correndo em direção ao abismo"