domingo, 25 de julho de 2010

Todo esse cinza e todo esse choro involuntário; acabei de acordar e me sinto cansado como se não dormisse a uma semana.No fim das contas o problema sempre fui eu.Desde a primeira série quando eu tinha medo das pessoas e chorava na escola e apanhava.Todos dizem que as crianças não mentem.Possivelmente todos sempre estiveram certos, talvez eu realmente tenha merecido todos esses anos sendo assim como sou; errado.

E eu chegava na escola e sentava lá na frente, e as pessoas começavam a gritar, e eu começava a chorar de medo, e começavam a rir de mim, e então começavam a tacar coisas, e em todas as vezes que éramos obrigados a fazer algo em grupo ou dupla, quando eu não saía sujo, saía machucado.Lembro da vez em que correndo de um garoto que queria me bater eu bati no mastro do pátio e desmaiei.Até mesmo a diretora riu.Nas aulas de educação física eu nunca participei, mas nunca deixei de levar boladas, e ocasionalmente pedradas.Aqueles que atirem as primeiras pedras...

Nunca fiz questão de reagir, eu só queria ficar quieto e em paz até a hora de ir embora.Mas alguma hora as coisas começam a mudar de alguma forma.E no auge dos meus nove anos eu me pegava imaginando formas cruéis de acabar com as pessoas que me faziam mal.Quebrar dedo por dedo, e então os joelhos, e então arrancar dente por dente, vértebra por vértebra, socos e chutes, cuspe, pedras, lâminas, cordas, palavras.Dizem que o ambiente molda o caráter do indivído, mas determinadas coisas são inatas.No final das contas eu sempre estava sozinho e pensando na pior forma paradeixar as coisas melhores, ou apenas menos piores.

Me lembro do Edilberto, um menino magrelo e sempre babando, com quem ninguém além de mim falava.As pessoas não gostavam dele porque ele tinha um odor não muito agradável.Nunca foi problema pra mim.E então eu conversava com ele sobre video-games e alienígenas e pornografia e coisas que eu nem gostava ou conhecia.Talvez fosse algum tipo de medo de voltar a ficar sozinho ou seja lá o que for, não importa.De alguma forma o peso sobre meus ombros havia diminuido.

Hoje, dez anos depois, eu continuo sozinho, continuo mal e sem escrupulos, e continuo chorando sem motivo algum.Certas coisas fazem parte de alguém desde que esse alguém nasce.Pode ser mais do que eu mereço, e poderia até ser pior.De qualquer forma eu não pedi por nada disso.Mesmo bebendo uma garrafa de café eu me sinto esgotado, com sono, pesado.Estou cansado de acordar cansado e dormir mais cansado ainda...

Há dias que eu me espanto com minha própria ausência de sentimentos.Hoje não é um desses dias.Não que isso seja algo bom; é algo como desidratar pelos olhos, estar fraco e vulnerável como as cobras quando trocam de pele.Toda essa fragilidade me enoja.Obviamente há pessoas por aí passando fome e morrendo, e doentes e em condições até piores.Não que eu não me importe com elas, pelo contrário, mas acho que só sei escrever sobre mim mesmo.Hoje eu percebo que não sou tão egoísta quanto imaginei que fosse, eu não vou tão longe assim.

Um pouco de alívio seria perfeito, seria mágico.Tirar de mim essa coisa que vem de lugar nenhum e se aloja na caixa toráxica como fumaça e que faz a respiração pesar e soluçar, isso que faz o estômago gelar, isso que não tem nome nem forma.Talvez seja só ilusão, paranóia; não seria nada demais vindo de mim.Estou cansado, minha consciência pesa como uma bola de canhão.E eu nem sei o que fiz.

8 comentários:

Universo disse...

nasceu! rá...

Não importa disse...

É... Eu sempre tenho vontade de te falar alguma coisa, mas aqui eu sempre fico sem palavras. Queria poder te dar colo, só isso.

Julia disse...

Sabe sim... Você sabe que o que vc fez foi fazer nada.

Madame Morte disse...

E agora já era...=/

Andressa M. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Andressa M. disse...

Estripe, estupre, trucide a inércia .
Corra, bata, beije, enlouqueça a ponto de ver q loucos são sãos .


Esse é meu conselho

Ψ Psycho Nocturna disse...

Eu sei como é,exatamente assim.Nem tenho o que dizer porque palavras são dispensáveis,nada ajuda muito D: sinta-se abraçado,é tudo o que posso fazer ;**

Nina Vieira disse...

Não se sinta culpado. O inferno são os outros. Também eu nunca aprendi a lidar com "pessoas".